Título: MPE recebe lista de 132 mortos
Autor: Eduardo Nunomura e Laura Diniz
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2006, Metrópole, p. C1

O Ministério Público Estadual (MPE) começou a investigar ontem as mortes ocorridas na capital durante a onda de ataques comandada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Mas já se sabe que nunca se matou tanta gente com arma de fogo na cidade. Conforme dados compilados pelo Conselho Regional de Medicina (CRM), dos 273 corpos que deram entrada no Instituto Médico-Legal Central do dia 12 ao 20 (até as 14 horas), 132 tinham marcas de balas. Nesses números, não se faz distinção entre policiais e civis nem entre casos de homicídios em confrontos com a polícia, crimes comuns e até suicídios.

Conforme dados da Prefeitura, em 2005 aconteceram por dia na capital, em média, 5,5 mortes provocadas por armas de fogo. Pela lista do CRM, só no dia 13 (sábado), 7 de cada 10 corpos periciados no IML Central eram de vítimas de armas de fogo. A maior mortandade ocorreu no dia 15 (segunda-feira), quando uma onda de boatos parou São Paulo: o IML Central recebeu 34 vítimas de armas de fogo. Ou seja, aconteceu o equivalente a 6 vezes a média de mortes por arma na cidade.

O crescimento vertiginoso do número de casos surpreendeu representantes do CRM. O presidente do conselho, Desiré Carlos Callegari, não se recorda de estatísticas tão sombrias na história do IML. Mas ressaltou: "Seria temerário afirmar que houve execução."

Feita entre os dias 20 e 22, a pedido de procuradores da República, a vistoria do CRM nos laudos do IML resultou num relatório com mais de mil páginas, dividido em três volumes. Ele foi concluído na manhã de ontem e encaminhado também à Defensoria Pública e ao MPE.

Os promotores começaram a fazer o cruzamento de dados do relatório com os dos boletins de ocorrência policial. Isso é vital para a investigação, até porque a Secretaria da Segurança centralizou as informações sobre as mortes e se recusa a torná-las públicas.

Separar o joio do trigo é o trabalho do MPE agora. Com o relatório do CRM e os BOs, será possível descobrir em que condições as vítimas foram mortas e se os casos têm relação com os ataques - tanto do PCC quanto na reação das forças policiais (confronto direto), além da ação de grupos de extermínio.

Na vistoria, o CRM verificou que 98 das vítimas de armas de fogo deram entrada em hospitais e prontos-socorros. O São Luís Gonzaga, o de Campo Limpo e o de Vila Nova Cachoeirinha tiveram o maior número de ocorrências: 10, 7 e 7, respectivamente. Outros 34 corpos tiveram como local de registro de óbito ruas, avenidas e casas.

O relatório mostra as condições em que estavam os corpos, o número de perfurações, locais de entrada, saída ou localização das balas, entre outros dados. O CRM verificou que, na hora da vistoria, 13 corpos estavam sobre macas na sala onde ficam as câmeras de refrigeração, que estavam lotadas. Corpos sem identificação não estavam sendo liberados e permaneceram no IML Central por mais de 72 horas.

O relatório inclui apenas dados do IML Central porque, das quatro unidades da capital, duas, as da zona leste e sul, estão em reforma. O IML Oeste continua funcionando, mas, a partir do dia 15, todas as vítimas de morte violenta passaram a ser encaminhadas ao IML Central. Hoje, o CRM vai começar vistorias semelhantes no IML Oeste e nas outras unidades do Estado. Não se sabe a dimensão da mortandade nesses locais, já que os órgãos estão proibidos de prestar informações.