Título: Câmara absolve 11º mensaleiro; só falta julgar Janene
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2006, Nacional, p. A8

Na mais baixa presença de parlamentares de todos os julgamentos de processos de cassação, a Câmara absolveu ontem mais um deputado acusado no escândalo do mensalão. Desta vez quem se livrou foi Vadão Gomes (PP-SP), acusado pelo publicitário Marcos Valério de ter recebido R$ 3,7 milhões do esquema de caixa 2.

Os 425 deputados presentes confirmaram a sentença do Conselho de Ética, que absolveu Vadão Gomes. Foram 243 votos a favor da absolvição, 161 pela condenação, 16 abstenções, 4 em branco e 1 nulo. Para a cassação de um deputado, são necessários 257 votos (metade mais um dos 513). Antes de Vadão, a sessão com menor presença de parlamentares havia sido a que julgou João Magno (PT-MG) - na qual a deputada Ângela Guadagnin (PT-SP) ganhou notoriedade ao festejar a absolvição do colega com a célebre dança da pizza. Naquela ocasião, foram registrados 426 votos.

Vadão é o 11º dos 19 deputados acusados de envolvimento com o mensalão a ser absolvido pelo plenário da Câmara. Antes dele livraram-se João Magno, João Paulo Cunha (PT-SP), José Mentor (PT-SP), Josias Gomes (PT-BA), Pedro Henry (PP-MT), Professor Luizinho (PT-SP), Roberto Brant (PFL-MG), Romeu Queiroz (PTB-MG), Sandro Mabel (PL-GO) e Wanderval Santos (PL-SP).

SÓ 3 CASSADOS

De todos os personagens do escândalo do mensalão, somente três foram cassados: Roberto Jefferson (PTB-SP), que fez a denúncia e previu pouquíssimas punições; o ex-ministro José Dirceu (PT-SP), apontado como o responsável pelo esquema do caixa 2 montado pelo PT, e o presidente do PP, Pedro Corrêa (PE). Renunciaram para fugir do processo de cassação Valdemar Costa Neto (PL-SP), Carlos Rodrigues (sem partido-RJ) - agora envolvido no caso da quadrilha que fraudava licitações para a compra de ambulâncias -, José Borba (PMDB-PR) e Paulo Rocha (PT-PA). Falta ainda o julgamento de José Janene (PP-PR).

Coube ao petista Eduardo Valverde (RO) fazer a defesa de Vadão. E ele disse no seu curto discurso que não foram conseguidas provas que incriminassem o deputado paulista. Além do mais, acusou Marcos Valério de ser contraditório. Disse que inicialmente o publicitário afirmara que tinha feito depósito em dinheiro na conta de uma das empresas de Vadão. Depois, alterou a versão. Teria entregue a quantia pessoalmente ao deputado em um hotel em São Paulo.

O relator original, Moroni Torgan (PFL-CE), que sugeriu a cassação de Vadão, teve de ser substituído ainda no Conselho de Ética, visto que seu parecer fora rejeitado. Moroni cruzou telefonemas e concluiu que Vadão era mesmo suspeito de ter recebido o dinheiro.

SEM CHORO

Ao contrário dos outros acusados, que subiram à tribuna por longo tempo para chorar suas mágoas contra os acusadores e, principalmente, contra os meios de comunicação que divulgaram as notícias de que eram suspeitos, Vadão não perdeu tempo. Foi à tribuna, mas gastou pouco mais de dois minutos em explicações. "Eu não tenho nada a ver com mensalão. Nem conheço Marcos Valério", disse ele.

De acordo com Marcos Valério, R$ 3,7 milhões teriam sido repassados ao deputado do PT nos dias 5 de julho e 16 de agosto de 2004, em um hotel em São Paulo. Vadão afirmou que na primeira data estava em Tarumã (GO), onde possui uma fazenda, e, em 16 de agosto, disse que se encontrava em Mineiros (GO), onde tem um frigorífico.