Título: Olmert ameaça criar fronteira
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2006, Internacional, p. A15

O primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, declarou ontem a uma sessão conjunta do Congresso dos EUA que Israel será um parceiro para a paz com os palestinos, mas definirá suas fronteiras unilateralmente na Cisjordânia se concluir que não tem interlocutor para negociar. Olmert iniciou na terça-feira sua primeira visita oficial aos EUA desde que assumiu o cargo de primeiro-ministro, no mês passado.

"Não podemos esperar os palestinos para sempre. Nosso mais profundo desejo é construir um futuro melhor para nossa região, lado a lado, com um parceiro palestino. Se não, seguiremos adiante, mas não seguiremos sozinhos", disse Olmert, referindo-se à promessa de apoio que obteve do presidente americano, George W. Bush na, terça-feira. Ele obteve aplausos demorados quando declarou: "Nós não nos renderemos ao terror".

Os EUA, a União Européia e Israel mantêm um boicote financeiro ao governo da Autoridade Palestina desde que o grupo radical islâmico Hamas, vencedor das eleições parlamentares de janeiro, assumiu o poder, em fins de março.

Olmert tem dito que o avanço do diálogo depende de o Hamas renunciar à violência, reconhecer a existência de Israel e aceitar os acordos de paz que levaram à criação da Autoridade Palestina. O Hamas, porém, tem como meta estatutária a destruição de Israel, embora nas últimas semanas seus líderes mais moderados venham propondo um cessar-fogo de longo prazo em troca da retirada israelense dos territórios palestinos ocupados em 1967, na Guerra dos Seis Dias (Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental). No entanto, o grupo se recusa a renunciar a suas metas.

Numa clara mudança da política americana na questão palestino-israelense, Bush elogiou na terça-feira o plano de Olmert de delimitar a fronteira de Israel anexando partes da Cisjordânia. Sua intenção é remover cerca de 60 mil colonos judeus de assentamentos mais isolados e anexar e expandir os grandes blocos.

No entanto, resolução do Conselho de Segurança da ONU considera a Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental - regiões reivindicadas pelos palestinos para formar seu Estado - como territórios ocupados, cujo destino tem de ser definido em negociações de paz.

Os EUA sempre acataram a resolução da ONU e são patrocinadores do último plano de paz para a região, o Mapa da Estrada, que prevê a criação de um Estado palestino e conversações para definição das fronteiras, da questão dos refugiados palestinos e do destino de Jerusalém Oriental e das colônias judaicas, construídas ilegalmente em território ocupado.

Bush elogiou as "idéias ousadas" de Olmert, mas pediu que ele se empenhe na busca de uma solução negociada com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas. Disse ainda que esse plano poderia levar à solução de dois Estados (Israel e Palestina) se não for aberto um caminho para progresso com o Mapa da Estrada. Desde o lançamento do Mapa, em 2002, nenhum dos lados cumpriu sua parte. Israel continuou expandindo a colonização judaica nos territórios e o governo palestino não impediu os grupos extremistas de promoverem atentados contra israelenses.

Segundo o ministro israelense da Justiça, Haim Ramon, o governo pretende tentar a via diplomática até o fim do ano, antes de começar a pôr seu plano em prática (a rádio estatal de Israel informou que Olmert disse ao governo Bush que daria aos palestinos prazo de seis a nove meses). Depois, a meta seria traçar a fronteira até 2010, disse Ramon. Fontes no governo israelense dizem que o objetivo de Olmert é concluir a anexação dos grandes blocos de colônias judaicas na Cisjordânia, perto da fronteira de 1967, antes do fim do mandato de Bush.

Em seu discurso no Congresso, Olmert também insistiu que o Irã é o "desafio de nossa época"e pediu ação imediata para impedir a "ameaça à existência de Israel"