Título: Dólar dispara e chega a R$ 2,40
Autor: Patrícia Campos Mello e Lucinda Pinto
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2006, Economia & Negócios, p. B1

Em mais um dia de forte volatilidade, o dólar disparou 4,67% e encerrou o dia cotado em R$ 2,40, o nível mais alto desde 26 de agosto do ano passado. A moeda americana não subia tanto em um dia desde 24 de setembro de 2002. A aversão ao risco, que leva os investidores a tirar seu dinheiro de aplicações mais arriscadas, como títulos, ações e moedas de emergentes, e colocá-lo em papéis mais seguros, como os títulos do Tesouro dos Estados Unidos, continuou a dominar as negociações.

O dólar zerou a desvalorização que mantinha diante do real este ano - a moeda americana passou a acumular alta de 14,94% no mês e 3,23% no ano. "Temos um movimento de correção da superexposição dos investidores estrangeiros a mercados emergentes e commodities", diz Luís Suzigan, economista-chefe da LCA Consultores. "Esse movimento era previsto, mas está assumindo uma magnitude maior do que era esperado."

O movimento de saída dos investidores estrangeiros beirou o pânico. "Os investidores estrangeiros em títulos brasileiros queriam vender, não havia liquidez no mercado (compradores) e eles ficaram muito tensos", diz Alessandra Ribeiro, analista de mercado da Tendências Consultoria Integrada. Isso levou o Tesouro a fazer um leilão de compra e de venda de NTN-Bs (papéis atrelados ao IPCA, nos quais os estrangeiros são grandes investidores).

Com esse leilão, o Tesouro abriu uma porta de saída para o investidor, que não conseguia vender seus papéis no mercado secundário. "Só que os estrangeiros venderam seus títulos e ficaram 'comprados' em dólar, o que levou a cotação da moeda americana a explodir", diz Alessandra.

O movimento de manada levou o dólar futuro de junho de 2006 a bater na cotação limite fixada pela BM&F, de R$ 2,407, em alta de 5%. A Bovespa chegou a cair 3,32% mas reduziu as perdas e encerrou o dia em queda de 0,88%. O risco país chegou a 281 pontos, em alta de 2,18%.

Para Suzigan, se o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) parar de elevar o juro básico antes de ele chegar a 5,5%, a tendência é de o nervosismo diminuir e a cotação do dólar voltar aos R$ 2,20 até o fim de junho. "O Brasil tem bons fundamentos, com superávit em conta corrente e austeridade fiscal, não há motivo para os estrangeiros liquidarem todos seus investimentos daqui", diz o economista. Agora, se o Fed tiver de elevar o juro básico acima do nível de 6% ao ano, o impacto será mais duradouro, acha Suzigan. "Aí, poderemos esperar dólar a R$ 2,80 e volatilidade extrema no segundo semestre."

JUROS FUTUROS Os juros futuros mostraram o pessimismo dos investidores, que esperam maior conservadorismo na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana que vem. O contrato mais negociado, com vencimento em janeiro de 2008, chegou a superar a taxa Selic, em um momento em que o mercado espera mais um corte da taxa na reunião de maio.

O contrato de janeiro de 2008 projetou taxa de 16,65% ao ano - depois de bater na máxima de 16,85% -, para uma taxa Selic de 15,75%.