Título: Rato alerta para futuro difícil
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2006, Nacional, p. B4

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato, disse que o risco de uma nova crise financeira global ainda é reduzido, mas alertou que a comunidade internacional precisa se preparar para tempos mais difíceis. Em seminário promovido pela Empire Society, em Cingapura, ele observou que o crescimento da economia mundial está elevado "e os mercados financeiros estão lidando bem" com a volatilidade dos últimos dias. Além disso, acrescentou, muitos países emergentes, especialmente na Ásia, acumularam grandes reservas em moeda estrangeira para se prevenir.

"Mas as condições benignas nos mercados financeiros não vão durar para sempre, e o acúmulo de reservas é feito com um custo financeiro muito alto", disse o chefe do FMI. "Num mundo no qual os mercados financeiros se tornam mais conscientes do risco inflacionário e desequilíbrios globais, contínuas políticas macroeconômicas fortes e consistentes nos mercados emergentes são ainda mais importantes."

Rato disse que, ao longo dos próximos 12 meses, as consultas multilaterais deverão ser intensificadas para "se lidar com os crescentes desequilíbrios econômicos globais que ameaçam a prosperidade do mundo". Segundo ele, os desequilíbrios mais óbvios são o grande déficit em conta corrente dos Estados Unidos - quase 6,5% do PIB americano em 2005 e que deverá crescer ainda mais neste ano - e os amplos superávits nas contas externas de outros países, entre eles exportadores de petróleo como Arábia Saudita, Japão e China.

Segundo o chefe do FMI, já há um amplo consenso entre as autoridades em torno das medidas necessárias para se reduzir os desequilíbrios globais.

"A maioria dos governos ao redor do mundo concorda ser preciso um ajuste fiscal e medidas para estimular a poupança privada nos Estados Unidos, uma maior valorização cambial e medidas para estimular a demanda doméstica em alguns países emergentes da Ásia, e reformas estruturais para estimular a demanda e melhorar a produtividade em setores da Europa e Japão", disse. "Mas esse consenso até agora foi traduzido apenas numa ação limitada."