Título: É hora de rever investimentos
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2006, Nacional, p. B4

A onda de instabilidade no mercado financeiro provoca perdas, mas abre também oportunidades de ganho em alguns produtos, retirados ou esquecidos nas prateleiras de investimentos em quadro anterior de estabilidade. O diretor de gestão de fundos de investimento do banco WestLB do Brasil, Mario Carvalho, diz que o cenário mudou e agora é de pressão sobre o dólar, a inflação e, por extensão, sobre os juros.

"Como a expectativa do mercado é que o juro americano vai além de 5% (onde está no momento), a taxa básica de juros no Brasil precisa ficar em nível elevado", para continuar atraindo capitais ou manter os recursos já no País. "Minha avaliação é que o Copom (Comitê de Política Monetária, do Banco Central) não vai reduzir o juro na próxima reunião (no dia 31)".

Carvalho diz que a tendência de elevação dos juros futuros, influenciada por essa expectativa, prejudica o rendimento dos títulos prefixados em geral. "Sofre toda aplicação que tem papéis prefixados que passam pela marcação a mercado." Esse processo consiste na atualização diária do valor dos papéis prefixados. A perda poderá ser acentuada se houver aumento de oferta dos títulos na praça, por causa de ampliação de resgates.

Os fundos de renda fixa correm maior risco e os DI têm posição praticamente neutra, avalia Carvalho. Para o sócio-diretor da Modal Asset Management (MAM), Alexandre Póvoa, o risco de prejuízo atinge as carteiras com papéis prefixados de longo prazo, se o investidor fizer resgate no curto prazo. "Não haveria perda se permanecesse no fundo até o vencimento dos títulos." A questão, segundo ele, é analisar se a turbulência atual reflete uma realocação de recursos entre os mercados ou se é uma tendência.

O executivo do WestLB diz que o novo cenário favorece os fundos de inflação - carteiras formadas por títulos que rendem a variação da inflação mais juros. O mais indicado num primeiro momento, diz Carvalho, são os fundos IGP-M, "que devem acelerar, pressionados pela recente alta do dólar, e podem chegar a pelo menos 2% em julho". A elevação do IGP-M vai chegar mais à frente aos preços ao consumidor, o que torna interessante também os fundos com NTN-B, títulos corrigidos pelo IPCA, a partir de agosto.

Póvoa diz que, no momento, o investidor deve preferir aplicações mais seguras, como fundos DI. Ele sugere também, para quem admite risco, os fundos de inflação, mas é preciso ver se o dólar mudou de nível de preço ou não. "Se a pressão for temporária, o dólar, que fechou em R$ 2,40, poderia voltar a patamares anteriores." De todo modo, diz, o fundo de inflação é interessante porque o cupom (parcela referente a juros) dos títulos está bastante atraente. O juro da NTN-B no leilão de ontem ficou em 11% ao ano, quando meses atrás estava em 9%. "Se a inflação não subir muito, estará embutida aí boa parcela de juro real; se subir, esse cupom vai proteger o rendimento."

Carvalho comenta que o cenário de turbulências pode se estender até a próxima reunião do Fed (banco central americano), em 28 de junho, com aumento ou redução do stress no mercado de acordo com os dados de atividade e inflação divulgados nos EUA até lá.