Título: MST boliviano começa a invadir terras em Santa Cruz
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2006, Economia & Negócios, p. B8

Cinco propriedades do Departamento de Santa Cruz, o maior da Bolívia, foram invadidas por membros do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) boliviano. A informação é de Zacarias Baldi, produtor brasileiro de soja e diretor da Associação de Produtores de Oleaginosas e Trigo (Anapo), que representa o agronegócio.

Segundo a entidade, o Instituto Nacional de Reforma Agrária (Inra), encarregado de revisar a política agrária do país e de promover a reforma agrária, decidiu não barrar iniciativas de invasão.

Segundo Baldi, todas as versões dos decretos de nacionalização de terras que o governo Evo Morales vai anunciar são nocivos ao setor produtivo. Um dos problemas, diz ele, é incluir organizações invasoras de terra na Reforma Agrária.

O decreto, ao qual a Anapo teve acesso, prevê a expropriação de terras para fins de "utilidade pública, de forma que qualquer terra pode ser expropriada para fins de reforma agrária".

A tentativa do setor produtivo de influenciar no conteúdo do decreto do governo naufragou ontem. O assunto era discutido na Comissão Agrária Departamental (CAD), da qual participavam a Câmara Agropecuária do Oriente, organizações de campesinos e colonizadores e indígenas.

As entidades sociais não foram ao encontro e a tentativa de se chegar a um consenso sobre a proposta do departamento fracassou. O encontro seria preparatório para outra reunião, no dia 30, em Santa Cruz de la Sierra, entre a CAD e o governo Evo Morales. "Havíamos conseguido adiar o anúncio do decreto para depois desse encontro. Era uma tentativa de influir no conteúdo do decreto", comentou Baldi.

A Anapo acusa o governo de ter um discurso ambíguo. Por um lado, afirma que as decisões não atingiram o setor produtivo; por outro, estimula iniciativas como as invasões de terra.

Para Carlos Roja, presidente da Anapo, o setor produtivo dos Departamentos de Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija deve se reunir na próxima terça-feira para tirar uma posição comum ante a ameaça da nacionalização.