Título: Desemprego se estabiliza; renda cai
Autor: Marcelo Rehder e Jander Ramon
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2006, Economia & Negócios, p. B10

O desemprego na região metropolitana de São Paulo ficou estável em abril, depois de dois meses consecutivos de alta. No entanto, a renda do trabalhador continuou em queda. Pesquisa divulgada ontem pelo convênio entre a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) mostra que o rendimento médio real dos ocupados caiu 2,2% entre fevereiro e março (último dado disponível) e atingiu R$ 1.053, o equivalente hoje a pouco mais de três salários mínimos. Em relação ao valor registrado em dezembro de 2005, que não inclui o décimo terceiro salário, a queda chega a 3,7%.

No mês passado, o desemprego se manteve em 16,9% da População Economicamente Ativa (PEA), repetindo a taxa de março. Apesar disso, o número estimado de desocupados em abril teve ligeira alta e atingiu 1,7 milhão de pessoas, 5 mil a mais que no mês anterior. A explicação é simples: foram abertas apenas 22 mil vagas no período, quantidade insuficiente para abrigar as 27 mil pessoas que ingressaram no mercado de trabalho.

Os números chamaram a atenção dos responsáveis pela pesquisa. "O usual seria que, em abril, a ocupação aumentasse mais e a PEA acompanhasse esse crescimento, o que poderia resultar até em alguma expansão da taxa de desemprego", explica Clemente Ganz Lúcio, diretor-técnico do Dieese.

A série histórica da pesquisa mostra que, desde 1991, uma média de 150 mil pessoas tem ingressado no mercado de trabalho, na disputa por uma ocupação, entre março e abril . "Este ano, foram só 27 mil, o que é quase nada diante de uma PEA de mais de 10 milhões de pessoas", diz Alexandre Loloian, gerente de Análises da Fundação Seade.

Nos últimos 12 anos, nunca a PEA havia crescido tão pouco entre abril e março como agora (0,3%). Para os responsáveis pela pesquisa, ainda é cedo para se avaliar se isso é positivo ou negativo.

"Vamos aguardar os resultados dos próximos meses para saber se houve deslocamento do ingresso de pessoas de abril para maio ou junho", pondera Loloian.

Se isso se confirmar, poderá fazer a taxa de desemprego subir em maio, o que não é normal para o período.

SEM OFERTA Embora seja esperada alguma melhora no nível de ocupação, a chegada de mais pessoas ao mercado de trabalho, o que deveria já ter ocorrido no mês passado, pode pressionar a taxa para cima.

"A experiência de anos pesquisando o assunto nos ensinou a respeitar o 'cheiro da rua' em busca do emprego. Se a população não saiu à caça de emprego em abril, é possível que tenha percebido que não havia oferta de vagas, o que foi confirmado pelos resultados da pesquisa", diz o gerente da Seade.

Em abril, a oferta de novos postos de trabalho aumentou apenas 0,3%, variação compatível apenas com a registrada em anos de desempenho fraco da economia, como 1997, 2002 e 2003. "Prefiro acreditar numa postergação dos fatos, porque até o momento não há nenhum motivo para imaginarmos que o desempenho econômico do ano seja ruim", afirma Loloian. O setor de serviços abriu 37 mil vagas , enquanto a construção civil e o emprego doméstico abriram outras 3 mil. No entanto, a indústria fechou 13 mil ocupações e o comércio eliminou 13 mil postos de trabalho.

A queda dos rendimentos do trabalho também preocupa os técnicos da Seade-Dieese. Uma das justificativas é a criação postos de trabalho que, em sua maioria, são de baixa remuneração. Além disso, o rendimento médio real dos ocupados também pode estar sendo influenciado pelo aumento do emprego entre autônomos, empregados domésticos e profissionais liberais, categorias que recebem, em média, remuneração inferior à dos assalariados com carteira de trabalho assinada.