Título: EUA pensam em alternativa à Alca
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/06/2006, Economia & Negócios, p. B7

Idéia de Washington é criar associação de acordos de comércio compatíveis existentes no hemisfério

A entrada da Venezuela no Mercosul e a falta de iniciativa brasileira para impedir a grave confrontação entre a Argentina e o Uruguai, ambos sócios do acordo regional, em torno da construção de fábricas de celulose em território uruguaio, convenceram os governos dos Estados Unidos e de outros países da região a estudar um plano alternativo de integração regional que produza alguns dos efeitos imaginados para a congelada Área de Livre Comércio das América, a Alca, sem o Mercosul.

Em lugar de esperar por um acordo na Rodada Doha - que será acanhado, se sair - e, então, recolocar para o Brasil e seus sócios do Cone Sul o projeto da Alca, como se pensava fazer na administração americana, discute-se agora em Washington e em outras capitais do hemisfério a criação de uma associação dos acordos de comércio compatíveis existentes no hemisfério.

A idéia, confirmada ao Estado por fontes oficiais dos EUA e do México, parece ter por objetivo imediato forçar os países a posicionar-se em relação ao projeto regional bolivariano do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e deixar claro às elites empresariais brasileiras e dos demais países do Mercosul que o ingresso do governo de Caracas no grupo, a ser oficializada no mês que vem, terá conseqüências negativas para os interessados.

"A estratégia de Chávez não é de integração, mas sim de desintegração da América do Sul, como já ficou claro no caso da Comunidade Andina", disse um alto funcionário americano, referindo-se à decisão de Caracas de condicionar sua permanência na organização à denúncia, por Peru e Colômbia, dos acordos de comércio que concluíram recentemente com os Estados Unidos.

O plano em estudo depende da ratificação pelo Congresso americano dos acordos de livre comércio que os EUA firmaram com o Peru e a Colômbia e daquele que ainda negociam com o Panamá. Presumindo o cumprimento desses passos, a associação dos acordos regionais de comércio integrariam o Nafta (entre EUA, Canadá e México), o Cafta (entre os EUA e os países da América Central e a República Dominicana), os acordos bilaterais que os EUA, o México e o Canadá celebraram separadamente com o Chile e as nações andinas, bem como os que o Chile negociou com outros países e blocos de países da região.

O enfraquecimento adicional do Mercosul, com a defecção do Uruguai, que já manifestou a Washington o desejo de negociar um acordo comercial bilateral e deu os primeiros passos nesse sentido, é carta guardada na manga para ser jogada no momento apropriado.

Fontes do governo mexicano, cujo chanceler, Luiz Ernesto Derbez, visita esta semana as capitais do Mercosul, disse ao Estado que, na impossibilidade de um acordo continental, a associação entre os acordos de comércio existentes na região seria a melhor maneira de integrar cadeias produtivas.

Outra vantagem potencial da idéia é que, por tratar-se de uma consolidação de acordos já existentes, a associação poderia surgir por via administrativa, dispensando o desgaste político e os obstáculo da busca da ratificação pelos congressos nacionais de um tratado regional.