Título: Aliados pedem fim de Guantánamo
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/06/2006, Internacional, p. A10

Países como Grã-Bretanha, Dinamarca e Arábia Saudita renovam apelo aos EUA após suicídio de 3 prisioneiros

O suicídio de três prisioneiros árabes em Guantánamo, divulgado sábado por autoridades americanas, desatou ontem novos pedidos, alguns de aliados americanos, para que os EUA fechem seu campo de detenção na ilha de Cuba.

Os advogados dos prisioneiros responsabilizaram o governo do presidente George W. Bush pelas mortes, alertando que elas poderão inflamar a comunidade muçulmana global. "As mortes dos detidos revelam os maus-tratos em Guantánamo e até onde vai a violação dos direitos humanos", disse Katib al-Shimary, advogado dos prisioneiros sauditas.

Dois sauditas, identificados como Mani bin Shaman bin Turki al-Habradi e Yasser Talal Abdullah Yahya al-Zahrani, e um iemenita, Ali Abdullah Ahmed, se enforcaram no sábado usando suas roupas e lençóis, informaram militares dos EUA. Estas foram as primeiras mortes em Guantánamo desde que os EUA começaram a enviar para lá, no início de 2002, suspeitos de pertencer à rede Al-Qaeda ou ao movimento islâmico afegão Taleban.

Shimary manifestou-se cético, porém, quanto à versão de suicídio. "Essa versão americana levanta enormes dúvidas", disse ele, lembrando que as autoridades da base naval "exercem um controle contínuo dos prisioneiros com uma vigilância individual ou por meio de câmeras" durante todo o dia. "Suas famílias não acreditam que eles se suicidaram e os consideram mártires."

Um grupo de direitos humanos saudita disse que os presos foram levados ao suicídio por causa das torturas.

A Arábia Saudita, aliada dos EUA no Oriente Médio, pediu a entrega dos corpos e disse estar intensificando seus esforços para obter a repatriação dos outros 134 sauditas que estão detidos na base naval. Eles estão entre os 460 estrangeiros confinados em Guantánamo como "combatentes inimigos".

O governo alemão pediu que os EUA esclareçam as circunstâncias da morte dos três presos. O governo da Suécia assinalou que os suicídios põem em evidência a necessidade de fechamento da prisão. O primeiro-ministro da Dinamarca, Anders Fogh Rasmussen, que apoiou a guerra no Iraque, declarou que Guantánamo é o ponto fraco na luta contra o terrorismo e também disse que o centro de detenção deveria ser fechado. "Se (a prisão) é perfeitamente legal e não há nada de errado acontecendo lá, por que então eles não enviam os prisioneiros para os EUA para que o sistema legal americano os supervisione?", questionou a ministra britânico de Assuntos Constitucionais, Harriet Harman.