Título: Ninguém ainda sabe que uso dar à terra
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/06/2006, Nacional, p. A7

Líder diz que seminário com Incra vai ajudar a "amadurecer" decisão

As cem famílias que serão assentadas, cerca de 400 pessoas, estão acampadas há um ano e oito meses nas duas margens da Rodovia SP-250 e ainda não sabem o que vão fazer quando se apropriarem das terras da Fazenda Vitória. "Isso será amadurecido num seminário que vamos ter com o pessoal do Incra", diz o líder que se identificou apenas como Gabriel. "A gente soube que a terra ia sair e veio para cá", explicou. Gabriel garante que a mata será preservada. "Vamos produzir mel e fazer agricultura orgânica."

O diretor da Divisão de Reservas e Parques Estaduais do Instituto Florestal, Luís Roberto Numa de Oliveira, teme que os impactos do assentamento ultrapassem a área da fazenda e se reproduzam dentro do parque. "É uma pena que uma área dessas vá ser utilizada para um tipo de ocupação que demanda a supressão da vegetação." De acordo com ele, a fazenda é mais propícia para o reassentamento de tribos indígenas que se instalaram em parques estaduais. Moradores de Apiaí também se articulam contra o assentamento.

"Não há como os sem-terra tirarem o sustento de um lugar como aquele", diz o ex-prefeito Nilton Passoca de Toledo Silva. "Tudo ali é mata e nascentes formadoras da Bacia do Ribeira, por isso deve ser preservado."

O Incra informou que este será o terceiro assentamento com o conceito Projeto de Desenvolvimento Sustentável no Estado. Os outros funcionam na região de Serrana, norte do Estado, com 80 famílias, e em Eldorado, Vale do Ribeira, com 70 grupos familiares.