Título: MLST tem fama de pacífico no Pontal
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/06/2006, Nacional, p. A7

Membros são instruídos pelo líder a invadir sem agredir ou depredar

Depois de invadir a Fazenda Nossa Senhora Aparecida em Presidente Epitácio, a 650 quilômetros de São Paulo, no dia 29 de abril deste ano, o Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST) ganhou, na região, a fama de ser pacífico. As 49 famílias entraram na propriedade sem cortar cerca, arrebentar cadeados, destruir lavouras ou matar gado.

A área fica no Pontal do Paranapanema, dominado pelo Movimento dos Sem-Terra (MST), do qual o MSLT é uma dissidência. A região tem uma história recente marcada pelas invasões violentas e conflitos com fazendeiros. No caso da Nossa Senhora Aparecida, ao invés de requerer a reintegração de posse para expulsar os invasores, a dona das terras, Irma Baldo Dias, ofereceu os 246 hectares ao Incra.

O movimento foi organizado há oito meses na região pelo sem-terra Gilmar de Jesus, de 28 anos, ex-coordenador do MST. A proposta era "ocupar sem destruir", segundo ele. "O pessoal estava cansado daquela luta de antigamente, quando se entrava para bagunçar tudo."

Por isso, as depredações protagonizadas pelo movimento na Câmara dos Deputados, em Brasília, deixaram os integrantes "de cabeça baixa", segundo ele. "Na ocupação, nosso pessoal é orientado para não cortar cerca, nem estragar. Se alguém pega alguma coisa da fazenda é expulso." Ele garante que essa orientação vale para outros grupos do movimento, pelo menos em São Paulo.

O MLST tem acampamentos em Restinga, na região de Franca, Ribeirão Preto e Cristais Paulista. "Lá para cima (Norte e Nordeste) eu não sei como é, mas com certeza o que aconteceu em Brasília não tem a ver com nosso movimento." Ele acha que os sem-terra podem ter sido influenciados pelo grupo de estudantes que protestava na Câmara. Gilmar garante que nenhum integrante da região participou dos atos de vandalismo em Brasília.