Título: Kawall: stress não se justifica
Autor: Fabio Graner e Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2006, Economia & Negócios, p. B14

O secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall, avaliou ontem que não há uma piora no cenário econômico internacional que justifique tamanha perda de preços dos ativos financeiros brasileiros (ações, moeda e títulos). No entanto, admitiu que nos próximos dias é de se esperar que o stress no mercado continue e oscile a cada divulgação de novos indicadores ou pronunciamentos de autoridades do Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos. Ele preferiu não fazer previsão sobre o prazo para que o mercado volte a operar sem o nervosismo dos últimos dias, embora analistas apostem que a volatilidade ainda persista por um ou dois meses.

Kawall disse que a turbulência nos mercados nos últimos dias não reflete a situação econômica brasileira. "O Brasil não é o epicentro da volatilidade global. Somos passageiros da incerteza, assim como os agentes financeiros globais." Para ele, os fundamentos da economia mundial são bons e o cenário para o futuro das economias no mundo não mudou "para justificar esses movimentos de preços".

Na avaliação do secretário, está ocorrendo uma mudança no "apetite por risco" dos investidores internacionais, que estão saindo dos mercados emergentes, refletindo as incertezas em torno da política de juros dos Estados Unidos.

A alta volatilidade dos últimos dias, no entanto, afetou a estratégia de gerenciamento da dívida pública brasileira pelo Tesouro Nacional. Os títulos chamados LFTs, considerados piores para a administração da dívida, por serem atrelados às taxas de juros, voltarão a ser ofertados em junho após cinco meses.

Além disso, nesta semana o Tesouro voltou a realizar leilões de NTN-B, atrelados a índices de preços. Por serem papéis de longo prazo, não havia procura. Mas para dar uma referência de preço ao mercado secundário desses títulos (compra e venda entre investidores) o Tesouro decidiu voltar a emiti-los. Também suspendeu os leilões desta semana dos papéis prefixados, os melhores para a administração da dívida por terem sua rentabilidade fixada no momento da venda, mas com pouca demanda em momentos de crise.