Título: Bento XVI reúne multidão na Polônia
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2006, Vida&, p. A39

Papa cita João Paulo II em todos os discursos e pede união dos fiéis

Nada comparado ao carisma de João Paulo II, que em suas oito viagens à Polônia reuniu milhões de compatriotas nos parques e igrejas das principais cidades. Mas, para quem esperava que Bento XVI fosse recebido com frieza, o papa surpreende.

No segundo dia de sua visita à pátria de Karol Wojtyla, cuja figura ele relembra em cada discurso, o alemão Joseph Ratzinger, de 79 anos, levou cerca de 270 mil fiéis a uma missa campal em Varsóvia e outros 200 mil em Czestochowa, onde foi rezar, ontem, no santuário da Madona Negra, a Rainha da Polônia.

Sempre com o cuidado de falar em polonês ou em italiano, e não em alemão, supostamente para não reavivar a ocupação nazista na 2ª Guerra Mundial, o papa lembrou o papel de seu antecessor na luta contra o comunismo do bloco soviético.

"Como não agradecer hoje a Deus pelo que se realizou em vossa pátria e no mundo todo durante o pontificado de João Paulo II? Diante de nossos olhos, ocorreram mudanças de sistemas inteiros - políticos, econômicos e sociais", disse o papa para uma multidão que o aplaudia sob chuva intensa e contínua.

Bento XVI voltou a alertar para a tentação do relativismo, tema recorrente em seus discursos desde a eleição para papa. "Todo cristão está obrigado a confrontar suas convicções pessoais com os preceitos do evangelho e da tradição da Igreja no compromisso de permanecer fiel à palavra de Cristo", advertiu na missa em Varsóvia.

No santuário de Jazna Góra, em Czestochowa, o papa retomou o tema de sua primeira encíclica - Deus é amor - para dizer que "essa verdade sobre Deus é a mais importante, a mais central" para os homens. O discurso mais marcante que Bento XVI pronunciou nos dois primeiros dias de sua visita à Polônia foi uma exortação à unidade dos cristãos. "Nossas aspirações ecumênicas devem ser imbuídas da oração, do perdão recíproco e da santidade da vida de cada um de nós", disse o papa, depois de afirmar que, no início do pontificado, assumiu o firme propósito de dar prioridade "à restituição da plena e visível unidade dos cristãos".

Dirigindo-se a representantes do Conselho Ecumênico Polonês, na igreja luterana da Santíssima Trindade, em Varsóvia, Bento XVI afirmou que, apesar de obstáculos ainda a superar, tem havido grandes avanços no diálogo entre católicos e evangélicos. O papa falou no plural, salientando a fé comum, em vez de divisões.