Título: Marines executaram civis no Iraque
Autor: Tony Perry
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2006, Internacional, p. A34

Investigação conclui que grupo alvejou 25 pessoas em suas casas para vingar soldado americano morto

Fuzileiros navais da unidade de Camp Pendleton mataram cruelmente civis iraquianos desarmados, incluindo mulheres e crianças, e depois tentaram acobertar a matança, ocorrida em Haditha, cidade que é reduto de insurgentes no Iraque. O caso, ocorrido em 9 de novembro, foi confirmado por investigações dos militares.

Autoridades que viram as conclusões da investigação disseram que a expectativa é que haja acusações criminais até de assassinato, o que tornaria o incidente o caso mais grave dos supostos crimes de guerra dos EUA no Iraque. Um inquérito supervisionado pelo general do Exército Eldon Bargewell descobriu que vários marines alvejaram mortalmente 25 iraquianos. Entre os implicados estão outros militares que não impediram a matança ou então fizeram relatórios imprecisos ou gritantemente falsos.

O relatório concluiu que uma dezenas de fuzileiros agiu inadequadamente em resposta à explosão de uma bomba que matou numa estrada um companheiro, o cabo Miguel Terrazas. Na busca dos insurgentes, os fuzileiros entraram em várias casas e começaram a disparar, segundo o relatório. Em sua declaração inicial à mídia, autoridades da Marinha disseram que os civis foram mortos ou por uma bomba detonada por insurgentes ou pelo fogo cruzado entre fuzileiros e insurgentes.

Depois que a revista Time obteve fotos mostrando homens e mulheres mortos e citou iraquianos dizendo que o ataque não foi provocado, o Corpo de Fuzileiros Navais voltou atrás nas suas explicações e exigiu uma investigação. Os fuzileiros fazem parte do 1º Regimento da 1ª Divisão da Marinha. O comandante do batalhão e dois comandantes de companhia foram substituídos no mês passado porque, segundo um porta-voz, o general Richard Natonski, comandante da divisão, perdeu a confiança na liderança deles.

A expectativa é que o Serviço Naval de Investigação Criminal, que conduziu uma investigação em separado, apresente acusações criminais, incluindo por assassinato, homicídio negligente, incúria no cumprimento do dever e a apresentação de um relatório falso.

Depois da bomba que matou Terrazas, os fuzileiros fizeram uma varrida na área, uma prática militar regular, sem seguir as normas da Convenção de Genebra sobre a identificação de combatentes. O relatório de Bargewell deve ser entregue brevemente ao general Peter Chiarelli, o comandante máximo das operações em Bagdá.

Chiarelli fará recomendações relativas à liderança, treinamento e apresentação de relatórios. Algumas das famílias dos iraquianos massacrados já receberam indenizações. Autoridades da Marinha confirmaram, também, a abertura de uma investigação sobre um incidente ocorrido em 26 de abril no qual soldados teriam matado um civil na cidade de Hamandiya, a oeste de Bagdá. Em meio às investigações, o comandante dos fuzileiros navais, o general Michael Hagee, viajou para o Iraque na quinta-feira para falar com os soldados e lembrar-lhes das ordens há muito vigentes de proteger os civis e obedecer à Convenção de Genebra.

Na semana passada, Hagee informou a líderes do Congresso sobre o relatório a ser divulgado. Um dos congressistas, o representante John P. Murtha, democrata da Pensilvânia, que é coronel aposentado dos fuzileiros, disse que eles "mataram civis inocentes a sangue frio".

O deputado Duncan Hunter, presidente do Comitê das Forças Armadas da Câmara, pediu aos jornalistas, políticos e ao público que não julguem os soldados americanos pela ação "de um esquadrão".