Título: Blair pede reforma da ONU
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2006, Internacional, p. A31

Líder diz que Conselho de Segurança não tem legitimidade sem Japão, Alemanha, India, América Latina e África

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, defendeu ontem a necessidade de ampliação do número de países membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas que hoje são apenas cinco - Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha, China e França. "Um Conselho de Segurança que tem França como membro permanente, mas não a Alemanha; que tem a Grã-Bretanha, mas não o Japão; que tem a China, mas não a Índia, sem falar em representantes da América Latina e da África, não pode ser legitimado no mundo moderno", ressaltou Blair em pronunciamento na Universidade George Washington.

O líder britânico, em visita oficial aos EUA, não citou nominalmente o Brasil que almeja uma cadeira permanente na instituição. Pediu também mais poderes para o secretário-geral da ONU a fim de que a organização possa dar uma resposta rápida e ágil em situações de crise internacional.

Ele defendeu igualmente mudanças no Fundo Monetário Internacional e no Banco Mundial para fazer frente às crises financeiras e humanitárias. Blair disse que compreendeu no início de seu primeiro mandato em 1997 as características de interdependência do mundo moderno. Lembrou a crise financeira que atingiu na época a Ásia e ameaçava alastrar-se pelo mundo, danificando economias mais frágeis. "Concordamos em baixar pacotes para prevenir o contágio, apoiando o Brasil e outros (países) que poderiam ser atingidos."

Blair mostrou-se preocupado com o clima. Propôs a criação de uma organização de defesa do meio ambiente na ONU.

Quanto ao Iraque, o líder britânico admitiu que foram cometidos equívocos. Reconheceu que a invasão pode ter dividido a comunidade internacional, mas dirigiu um apelo a todos os países para que apóiem o novo governo resultante de uma frágil democracia.

"Você pode não concordar com a decisão original (a invasão), acreditar que houve erros, pensar que o sofrimento aumentou, mas, seguramente, todos temos de aceitar que isto (o novo governo) é uma genuína tentativa de ganhar a corrida pela liberdade no Iraque", ressaltou.

O primeiro-ministro advertiu o Irã de que deve mudar de posição para a segurança de todo o mundo. Mas fez uma ressalva: "Não estou dizendo que deveríamos impor essa mudança." Em seguida, sugeriu a criação de um banco mundial de urânio enriquecido, controlado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), para suprir os programas de energia nuclear. "Isso eliminaria a necessidade de cada país de dispor de um ciclo próprio de enriquecimento."

Sobre o conflito entre palestinos e israelense, Blair exortou o Hamas - grupo islâmico radical que governa os palestinos - a reconhecer a existência de Israel e a concordar com o projeto que prevê dois Estados na região - o ponto de partida para uma paz duradoura, segundo o primeiro-ministro.