Título: Senado aprova Hayden na CIA
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2006, Internacional, p. A30

Principal tarefa do brigadeiro é restaurar credibilidade abalada pelo 11/9 e ataque ao Iraque

Por 78 votos a 15, o Senado americano aprovou ontem a nomeação do brigadeiro Michael Hayden, de 61 anos, para dirigir a CIA, Agência Central de Inteligência. Hayden, sucede ao ex-deputado da Flórida e ex-espião na América Latina Porter Goss, cuja breve gestão apenas aprofundou a crise interna atravessada atualmente pela agência de espionagem.

Bacharel e mestre em história, Hayden nasceu em uma família da classe trabalhadora de Pittsburgh, Pensilvânia - seu irmão é motorista de caminhão. Nos mais de cinco anos em que foi diretor da Agência Nacional de Segurança (NSA), ele foi o executor do controvertido programa de monitoramento extra-judicial de ligações telefônicas ordenado logo após os ataques de 11 de setembro de 2001 pelo presidente George W. Bush. Este programa pode ainda causar dores de cabeça para o novo chefe da CIA, apesar das explicações dadas para convencer os senadores a confirmá-lo no novo posto.

Na CIA, Hayden terá a difícil missão de restaurar a credibilidade da principal agência de espionagem dos Estados Unidos, que nos últimos tempos se notabilizou mais como tema de notícias e análises sobre suas falhas e até mesmo sobre sua utilidade que como fonte de informações de qualidade para orientar decisões do governo. O grande fiasco recente da CIA foi ceder às pressões políticas e dar a Bush a informação que ele precisava para justificar a invasão do Iraque. A agência disse que o regime de Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa. Estas nunca foram encontradas e a maioria dos americanos hoje condena a guerra do Iraque.

Primeiro militar da ativa a dirigir a CIA em 25 anos, Hayden reconheceu a crise da agência durante a sabatina de confirmação, dizendo que um de seus objetivos será "tirá-la do noticiário". Respondendo à preocupação de vários senadores, inclusive do Partido Republicano, ele fez questão de afirmar sua independência em relação ao Departamento de Defesa (Pentágono), deixando claro que discordou do secretário Donald Rumsfeld e resistiu às suas investidas para centralizar no Pentágono as atividades de inteligência no combate ao terrorismo.

Hayden iniciou a carreira militar como oficial comissionado, após completar o curso de oficial da reserva na universidade de Duquesne, em Pittsburg. Ele fez uma trajetória típica de um militar intelectual e político, ocupando postos nas áreas de instrução de oficiais, Estado-Maior, segurança nacional e inteligência. Antes de significar uma ampliação do poder militar, sua nomeação parece marcar a afirmação da influência do diretor nacional de inteligência, John Negroponte, primeiro titular de um novo posto criado por Bush para coordenar e supervisionar as atividades das várias agências de espionagem e contra-espionagem. A rivalidade funcional entre estas agências pode ter contribuído para as falhas na troca de informação que facilitaram o trabalho dos terroristas do 11/9. Hayden foi o segundo de Negroponte depois de deixar a NSA.