Título: Agricultores terão mais benefícios
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2006, Economia & Negócios, p. B10

Secretário afirma que governo vai anunciar medidas para reduzir custos de produção da atividade agrícola

Depois de três pacotes de ajuda ao setor rural só neste ano, o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Ivan Wedekin, afirmou ontem que o governo "trabalha na parte de logística e que medidas serão anunciadas" em breve. Ele não quis adiantar quais seriam essas medidas, mas disse que elas reduzirão os custos de produção da atividade agrícola. "Optou-se por não fazer o lançamento ontem (quinta-feira) porque as decisões ainda não estavam absolutamente consolidadas".

Além disso, completou, as medidas para a infra-estrutura que serão anunciadas pelo governo são "locais", ao contrário das ações de apoio ao agronegócio divulgadas na quinta-feira, que valem para todo o País. Em documento entregue por governadores ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 16 de maio, os produtores pedem, no item de medidas estruturais, a restauração efetiva das rodovias federais como forma de redução dos custos de frete.

O secretário também comentou outro ponto pedido pelos agricultores e que ficou de fora do pacote: a redução de impostos. Wedekin lembrou que este tipo de mudança precisa passar pelo Congresso e envolve alterações dentro das cadeias produtivas e a isonomia entre elas. "Não houve tempo de trabalhar nessa direção", disse.

Ao comentar a reação negativa de parte dos produtores ao pacote anunciado na quinta-feira, o secretário disse - afirmando que esta é também a avaliação do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues - que as ações vão resolver o problema de 85%, 90% dos agricultores. "É óbvio que continuarão existindo problemas para alguns produtores, principalmente para aqueles que tiveram mais dificuldades ou talvez para aqueles que deram um passo maior que as próprias pernas", afirmou. "Mas essas são questões de mercado, características do risco agrícola". O secretário não acredita que as previsões da iniciativa privada de queda de 30% na área cultivada na safra 2006/07 vão se confirmar.

"Nunca aconteceu na história da agricultura brasileira uma queda de 30% na área plantada. Isso se fala para algumas regiões, mas a nível nacional nós nunca tivemos queda de área de dois dígitos", afirmou. Ele contou que o governo trabalha com uma queda de 3% a 4% na área cultivada com grãos.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgará a primeira estimativa para a próxima safra em outubro. Na atual safra, 2005/06, a área plantada somou 47,061 milhões de hectares, queda de 2 milhões de hectares em relação ao período anterior.

Wedekin também descartou a possibilidade de novas renegociações de dívidas dos produtores rurais. "O governo não vai tratar mais desses assuntos, de dívida", disse. Anteontem, Rodrigues anunciou a prorrogação das dívidas de custeio da safra 2005/06 por 4 anos, com vencimento da primeira parcela 12 meses após a data da repactuação.

Para o secretário, a prorrogação de parte desses débitos permite a quitação de outros vencimentos. Ele também deixou claro que o governo não vai interferir nas negociações entre produtores e fornecedores de insumos. Só com as empresas de defensivos e fertilizantes os produtores têm dívida de R$ 7,5 bilhões. "Está fora de questão o governo estatizar a dívida privada", finalizou.