Título: Inflação nos EUA acima da 'zona de conforto' do Fed
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2006, Economia & Negócios, p. B8

Resultado não deixa claro se juros vão continuar a subir; gastos e renda dos consumidores aumentam

Os gastos do consumidor americanos cresceram 0,6% em abril, o maior avanço desde janeiro (0,8%), enquanto a renda do trabalhador aumentou 0,5%. Ao mesmo tempo, o núcleo da inflação subiu 0,2%, projetando anualizadamente 2,1%, acima da "zona de conforto" com a qual o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) trabalha ao executar a política monetária. Em Wall Street, a expectativa era de que o núcleo - que exclui os preços voláteis dos alimentos e da energia - ficasse em 0,3%. A reação a esses dados foi contraditória.

Em abril, os preços em geral subiram 0,5%, mas o Fed presta atenção ao núcleo, que indica com maior clareza a tendência dos preços. Os 2,1% anualizados do núcleo levaram analistas a afirmar que o Federal Reserve elevará mais uma vez o juro básico, este mês. Por 16 vezes consecutivas o BC elevou o juro em 0,25 ponto porcentual, até chegar a 5% ao ano. Acredita-se que a taxa chegará a 6% ao ano até dezembro, na tentativa de conter a pressão inflacionária.

"Esse número não é uma indicação de que o Fed deve aumentar o juro, mas não lhe assegura o luxo de dar uma pausa no processo de elevação da taxa", comentou William Sullivan, economista-chefe do JVB Financial Group. "A melhor coisa a fazer é esperar um pouco até obtermos mais informações sobre a inflação e a economia".

Outros analistas lembraram que à primeira vista o aumento de 0,6% nos gastos dos americanos pode impressionar, mas excluindo-se a inflação, esse ganho passa a ser de apenas 0,1%. Foi o segundo mês consecutivo em que a renda subiu 0,1%. O mercado esperava 0,7% no número cheio.

O economista Ian Shepherdson, da High Frequency Economics, disse que os consumidores estão sendo pressionados pelos impostos e pelo preço alto da gasolina. "Mesmo que os gastos reais (descontada a inflação) subam 0,3% em maio e junho, sua expansão no trimestre inteiro será pequena", comentou. Michael Strauss, economista-chefe do Commonfund, disse que a economia demonstra alguma lentidão neste trimestre, "e talvez o Fed não precise elevar o juro básico".

Outros analistas temem que o Federal Reserve acabe sendo pressionado a elevar o juro num momento em que a economia parece entrar em desaceleração. Teoricamente, a combinação de juro básico alto e economia desacelerada poderia levar o país a uma recessão.

Ontem, a Universidade de Michigan divulgou o seu índice de confiança do consumidor, que passou de 79 pontos na última leitura para 79,1 pontos esta semana. Em abril, ele estava em 87,4 pontos.