Título: Banqueiro estava recluso, com medo
Autor: Paulo Baraldi, Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2006, Economia & Negócios, p. B1,4

Conhecido pelas amizades com políticos e badalação, nos últimos tempos Edemar saía pouco de casa

O banqueiro Edemar Cid Ferreira era conhecido por seu gosto pela vida noturna, festas e badalação. Mas, nos últimos tempos, andava recluso. Passava a maior parte do tempo em sua mansão, avaliada em R$ 50 milhões, no bairro do Morumbi, em São Paulo.

Segundo pessoas ligadas ao banqueiro, Edemar saia pouco de casa porque estava com medo. Ele havia recebido ameaças de empresários que perderam dinheiro no Banco Santos e se sentia mais seguro em sua mansão. Parou até de dar caminhadas no bairro, como era seu costume.

Dentro de casa, a rotina também era diferente. Edemar chegou a ter 60 empregados para cuidar da mansão a ajudá-lo a receber convidados. Mas nos últimos estava com 15 funcionários.

Boa parte de seu tempo vinha sendo ocupado com a Justiça. Edemar tinha reuniões todas as semanas com os advogados Arnaldo Malheiros, Ricardo Tepedino e Sérgio Bermudes, responsáveis por sua defesa. Ele compareceu várias vezes à Justiça para prestar depoimento, sempre aparentando autocontrole e tranqüilidade.

Essa é uma rotina muito diferente dos tempos de badalação. Ele e a mulher, Márcia, davam pelo menos duas festas por mês em sua mansão.

O casal recebia políticos, empresários e artistas em saraus literários, audições de música e sessões de degustação de vinho.

Na época, o Santos era um dos maiores bancos do País e Edemar freqüentava as colunas sociais como patrono das artes. Era amigo de políticos influentes, como o ex-presidente José Sarney, e tinha planos ambiciosos para o banco. Edemar se dava ao luxo de fazer algumas brincadeiras extravagantes.

Da varanda de sua casa, o banqueiro esticava o braço, apertava o botão do controle remoto e mudava as luzes da sede do banco, num grandioso prédio em frente à sua mansão, localizado na outra margem do rio Pinheiros.

Edemar driblou os escândalos o quanto pôde. Seu nome começou a aparecer no noticiário em 1989, quando veio a público suas ligações com o traficante americano William Reed Elswick, conhecido como Capitão América.

Genro do senador maranhense Alexandre Costa e amigo da família Sarney, Edemar intercedeu na época junto ao então ministro da Justiça, Abi-Ackel, para ajudar Elswick a obter um visto de permanência no Brasil.

O nome de Edemar também apareceu em um escândalo no governo Collor. Ele foi acusado pelo então deputado Márcio Fortes de ser interlocutor de PC Farias com diretores de fundos de pensão.

IMAGEM A partir daí, a imagem de Edemar mudou. Ele virou mecenas das artes. Começou a aparecer em público ao lado de artistas. Transformou sua corretora em um banco, que começou a crescer rapidamente, inflado por operações falsas.

O Santos chegou a se tornar uma dos dez maiores instituições financeiras do País. Até sofrer uma intervenção do BC, em maio de 2004, que se transformou em falência em setembro do ano passado. Segundo advogados envolvidos no processo, a ação está só no começo e ainda deve demorar alguns anos.