Título: Dono do Banco Santos é preso
Autor: Paulo Baraldi, Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2006, Economia & Negócios, p. B1,4

O banqueiro Edemar Cid Ferreira, ex-controlador do Banco Santos, foi preso ontem de manhã, em sua casa, no bairro do Morumbi, em São Paulo. A prisão foi feita por agentes da Polícia Federal, em cumprimento a uma decisão judicial.

Edemar é acusado de gestão fraudulenta e responsabilidade pela quebra do Banco Santos, que sofreu intervenção do Banco Central em 2004 e teve sua falência decretada no ano passado. Calcula-se que o banco tenta deixado um rombo de R$ 2,2 bilhões.

O juiz responsável pelo processo, Fausto Martins de Sanctis, da 6ª Vara Criminal, decretou a prisão preventiva de Edemar, a pedido do Ministério Público Federal. Segundo a decisão judicial, Edemar se recusou a dar informações à Justiça sobre o destino de obras de arte que faziam parte de seu acervo.

A Justiça questiona o paradeiro de pelo menos dez obras de arte, incluindo uma escultura de Henry Moore e obras de Rot Lichenstein, Jean-Michel Bastiat, Serge Poliakoff, avaliadas em centenas de milhares de dólares.

O banqueiro e outros 18 ex-diretores do banco respondem a processo por crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta. Boa parte das obras de arte da coleção de Edemar foi tomada pela Justiça, em 2005, e encaminhada a museus do País.

O juiz enumerou, na ordem de prisão, oito motivos para sua decisão. O principal deles foi que o banqueiro não estaria respeitando a Justiça ao se negar a dar as informações solicitadas sobre o acervo.

"A garantia da ordem pública não há de ser entendida tão somente como forma de evitar a perpetração de outros delitos, mas de resguardar a credibilidade e respeitabilidade das instituições públicas, que se vêem seriamente ameaçadas pela atuação do acusado", diz Sanctis, na decisão.

No decreto da prisão, consta que uma das testemunhas da defesa de Edemar disse, durante interrogatório, ter visto sete das obras desaparecidas em sua residência, antes da apreensão de bens. Entre elas está Woman, de Henry Moore, pela qual o banqueiro afirmou, de acordo com a Justiça, ter pago US$ 300 mil. Edemar disse ao juiz que o motivo do desaparecimento das obras foi a freqüência de pessoas nos acervos, desde a apreensão, e no processo de destinação aos museus.

A Justiça pediu, após cruzar os livros da coleção do banqueiro - obras que estavam em sua casa, na sede do banco e em depósitos -, que ele providenciasse a lista das obras e a sua localização. Mas o banqueiro se negou a fazê-lo, "para não se auto-incriminar", diz nota do Ministério Público.

No entanto, o banqueiro tentou recuperar as obras apreendidas, admitindo que se desfez de parte delas para liquidar dívidas. Na petição judicial, ele disse que a Wailea Corporation, de sua propriedade, havia vendido as obras.

O paradeiro não foi informado, alegando que as negociações foram feitas no exterior, sujeitas a cláusulas de confidencialidade.

Depois de preso, Edemar foi levado para o Instituto Médico Legal (IML) para exame de corpo de delito e, em seguida, à carceragem da Polícia Federal, em uma cela individual, de quatro metros.

Em nota, o advogado de Edemar, Arnaldo Malheiros Filho, disse que entrará com pedido de habeas corpus para libertar seu cliente. "Para a defesa, a afirmação do juiz de que Edemar ameaça a ordem pública não se sustenta. Meu cliente foi preso em sua casa, onde sempre esteve à disposição da Justiça."

O advogado disse que vai pedir o afastamento de Sanctis do caso por considerá-lo "parcial". "Anteriormente, De Sanctis chegou a confiscar a residência do empresário, determinando que o imóvel deveria ser transformado em museu. A decisão foi considerada indevida pelo Superior Tribunal de Justiça", relata a nota.

Edemar deve passar pelo menos o fim de semana na prisão. No final da tarde de ontem, um dos empregados do banqueiro foi à Polícia Federal levando duas sacolas de roupas, da loja Daslu e da grife Armani.