Título: Aécio dribla Alckmin em Minas e irrita tucanos
Autor: Eduardo Kattah e Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2006, Nacional, p. A10

Enquanto pré-candidato participava de eventos em Governador Valadares, o bem avaliado governador mineiro inaugurava obra em São João Del Rey

O pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, foi ontem a Minas, fez rasgados elogios ao "companheiro" Aécio Neves e disse que, se eleito, o Palácio da Liberdade terá "um grande parceiro" em Brasília. Mas, reforçando os boatos de que estaria fazendo "corpo mole" na campanha, o governador mineiro não apareceu em Governador Valadares, onde Alckmin esteve na manhã de ontem. Enquanto o ex-governador paulista, que teve queda nas pesquisas, falava em parcerias, Aécio - que aparece nas sondagens já reeleito no 1º turno - estava em São João Del Rey, onde inaugurou obras do aeroporto local.

"Quero dizer da alegria de ver no jornal a excepcional avaliação de meu companheiro", disse Alckmin, em Valadares. "Temos o governador mais bem avaliado do Brasil." Segundo a última pesquisa Datafolha, Aécio tem 72% das intenções de voto e seu governo é ótimo ou bom para 68% dos mineiros . É justamente nesses bons índices que a cúpula do PSDB espera que Alckmin pegue carona em Minas. Ontem, porém, ele foi recebido apenas pelo secretário de Governo, Danilo de Castro.

Aécio, que já vinha sendo acusado por parte do tucanato de não se empenhar na campanha de Alckmin, alegou que tinha agendado previamente a inauguração em São João Del Rey. Sem entrar em polêmica, Alckmin confirmou, em palestra numa faculdade, a realização da convenção nacional do PSDB em Belo Horizonte, no dia 11. Previu uma "grande festa" para homologar tanto a sua candidatura como a de Aécio.

Entre o tucanato, a ausência de Aécio na visita a Governador Valadares reforçou o mal-estar. Na quinta-feira à noite, Alckmin já havia cancelado, na última hora, uma viagem a Patos de Minas, para participar de uma tradicional feira do milho. Aécio não o entusiasmou a se deslocar de Brasília no fim da tarde e voltar no dia seguinte, para encontro com o presidente da França, Jacques Chirac.

Mais do que um estilo conspiratório, a discrição de Aécio na campanha é parte de um jogo de sutileza política, na avaliação de parlamentares do PSDB. Pelo raciocínio, o governador pretende chegar ao Palácio do Planalto em 2010 e não estaria disposto a apostar agora em um candidato sem a preferência do eleitorado, embora reconheça que a briga maior no futuro deverá ser com José Serra, caso o ex-prefeito seja mesmo eleito governador de São Paulo.

"É óbvio que Aécio não vai atrapalhar a campanha, mas também não vai jogar toda sua força eleitoral" ,analisou um parlamentar mineiro.

Com apenas 7% de rejeição, o governador mineiro sempre teve uma boa relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há duas semanas, os dois viajaram no mesmo helicóptero de Belo Horizonte a Aimorés, divisa de Minas com Espírito Santo, para a inauguração de uma usina hidrelétrica.

A conversa só teve uma testemunha: o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), amigo de Aécio, que hoje tem 64% de apoio na capital mineira.

O coordenador da campanha de Alckmin, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), fez questão ontem de rebater os rumores de corpo mole. Para Guerra, o Aécio vai ter, sim, papel de destaque na campanha e demonstrará sua força na convenção nacional. Assegurou que o cancelamento da visita a Patos de Minas se deu unicamente por causa do adiamento da agenda de Alckmin com Chirac.

O próprio Alckmin passou os últimos dois dias tentando pôr um ponto final no clima de intrigas internas. "Isso tudo tem um prazo para acabar: o início da campanha", disse ontem, antes de embarcar para Minas. No início da noite, em Belo Horizonte, Aécio finalmente se encontrou com o ex-governador, que proferiu palestra para cerca de 250 empresários da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

Apesar das críticas e intrigas, Aécio mandou um recado aos setores do PFL que têm criticado a condução da campanha de Alckmin. "Aqueles que não puderem ajudar, que psicologicamente não estejam em condições de ajudar, que pelo menos não atrapalhem", disse, sugerindo o fim do fogo amigo entre os dois partidos.