Título: Na reta final, partidos saem em busca dos aliados de última hora
Autor: Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/06/2006, Nacional, p. A4

A definição de candidaturas e alianças eleitorais entra na reta final com a realização das últimas convenções partidárias e com a caçada aos aliados de última hora. Dia 30 termina o prazo para os partidos lançarem candidatos e oficializarem coligações.

Cinco das principais legendas fazem convenções nesta semana: PT, PFL, PSOL, PDT e PPS. No PT, que oficializa no fim de semana a candidatura à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a luta é para conseguir fechar as coligações com PSB e PCdoB, ameaçadas pelas queixas regionais dos dois partidos que se sentem desprestigiados pelo comando petista.

Antes do encontro, a coordenação nacional do PT se reúne, em Brasília, amanhã, para traçar a estratégia final e não perder o apoio dos dois aliados históricos, o que reduziria o tempo de rádio e TV da campanha de Lula. A principal queixa do PC do B é pela decisão do PT em manter a candidatura de Arlete Sampaio para o governo do Distrito Federal em vez de apoiar o nome do deputado Agnelo Queirós (PCdoB-DF).

Já o PSB tem incompatibilidades regionais com o PT em São Paulo, Santa Catarina, Tocantins, Rondônia, Mato Grosso, Alagoas, Paraná e Amapá.

Mas o comando do partido não conseguiu digerir o fato de o PT ter conservado a candidatura de Humberto Costa ao governo de Pernambuco em vez de apoiar o presidente nacional do PSB, Eduardo Campos.

Preocupado com a crise, o próprio Lula já fez apelos aos aliados tentando garantir o acordo. Para dirigentes petistas, entretanto, não é possível haver consenso em todos os casos e a eleição de Lula deve ser colocada em primeiro lugar.

"A direção nacional do PT está fazendo todo o esforço para conseguir resolver essas arestas regionais. Só acho que esse tipo de impasse, comum em eleições, não pode ser motivo para que se atrapalhe o objetivo maior que é a reeleição do presidente Lula", diz o secretário nacional de Organização do PT, Romênio Pereira.

Para o dirigente petista, o partido já deu "vários sinais de boa vontade" para os aliados na formação dos palanques regionais. "No Ceará, abrimos mão da candidatura ao governo e ao Senado, cedendo vagas para Cid Gomes, indicado pelo PSB para o governo, e para Inácio Arruda, indicado pelo PCdoB ao Senado. Abrimos mão da pré-candidatura de José Airton Cirilo, que perdeu a eleição para o governo do Ceará em 2002 no segundo turno, por apenas 3 mil votos. Ou seja, era uma candidatura viável. Mas fizemos o gesto em favor dos aliados", afirma.

Romênio lembra também o caso da aliança no Rio, onde foi retirada a candidatura da ex-senadora e ex-ministra Benedita da Silva ao Senado para abrir a vaga para a deputada Jandira Feghali, do PCdoB.

Se o PT corre atrás de aliados, o PSDB de Geraldo Alckmin trabalha para garantir o maior número de concorrentes na eleição presidencial, o que ajudaria a garantir segundo turno contra Lula. Hoje ocorrem, no Rio, duas convenções importantes para Alckmin.

Debaixo de um princípio de rebelião, o comando do PDT tenta manter a candidatura presidencial do senador Cristovam Buarque (DF). Já o PPS faz seu encontro nacional, não lançando candidato mas devendo propor apoio informal à candidatura do tucano.

Na quarta-feira será a vez da convenção do PFL, que oficializará o apoio a Alckmin, mas terá que administrar a insatisfação crescente de integrantes do partido que criticam o andamento da campanha nacional e ameaçam debandar. Depois de não conseguir evitar a adesão a Lula dos pefelistas do Maranhão, o comando do partido ficou extremamente irritado com a presença do governador de Pernambuco e candidato à reeleição, Mendonça Filho (PFL), num evento de Lula no Estado, sexta-feira.

Depois de serem os responsáveis pelos ataques mais fortes até agora contra Lula, os pefelistas não escondem sua preocupação com a situação desvantajosa nas pesquisas. O prefeito do Rio, César Maia, achou, por exemplo, equivocados os primeiros comerciais nacionais do PSDB comparando o índice de aprovação de Alckmin como governador em São Paulo com o de Lula na Presidência. Para Maia, o comercial é de difícil compreensão. "Certamente o contraste deveria ser mais contundente. Tem tanta coisa problemática no governo Lula e apresentam um incompreensível 69% x 39% de índices de aprovação", avalia.

Apesar disso, ele ainda acha viável que Alckmin chegue ao segundo turno contra Lula. "Todas as pesquisas mostram a vulnerabilidade de Lula. Segundo a pesquisa do Ibope, ele ganha no primeiro turno com 45% dos votos. Derrubá-lo cinco pontos é simples e é suficiente para garantir o segundo turno. A nível conceitual, a comunicação de contraste deve mostrar que o segundo governo Lula seria um desastre que afetaria as pessoas diretamente", sugere.

Na luta pela Presidência valem até referências históricas. O PSOL vai lançar a candidatura da senadora Heloísa Helena (AL) no Quilombo dos Palmares, em Alagoas, em referência à resistência de Zumbi contra a escravidão.