Título: 'Crescimento pífio é principal problema'
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

O desequilíbrio fiscal do Estado se deve muito mais ao crescimento pífio da economia brasileira que ao aumento real do salário mínimo. A afirmação é do economista Cláudio Dedecca, professor e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e do Trabalho (Cesit), da Universidade de Campinas (Unicamp), e um maiores especialistas em salário mínimo no País.

De acordo com dados da Secretaria do Tesouro Nacional, citados pelo economista, os gastos da Previdência Social cresceram de 6% para 8,2% do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos 10 anos, período em que a economia cresceu a uma taxa média inferior a 2,5%. "Se tivéssemos crescido a uma média anual de 5%, o aumento dos gastos teria sido de apenas meio ponto porcentual. Caso a expansão da economia tivesse sido de 7% ao ano, hoje o gasto da Previdência em relação ao PIB seria menor que em 1995", afirma Dedecca.

O economista explica que a economia tem crescido a uma taxa muito parecida com a da população, enquanto o número de beneficiários da Previdência aumenta muito acima dessa média. "Nem o mais ensandecido defensor da política do Banco Mundial duvidaria que o gasto social tenderia a crescer nesse contexto".

Mesmo que o governo não reajustasse o salário mínimo, os gastos da Previdência continuariam crescendo em termos nominais. "Se o crescimento do PIB está colado ao aumento da população, mas o número de beneficiários cresce acima do da população, o gasto da Previdência só pode aumentar".

Para o economista, a conclusão do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de que o aumento real do salário mínimo é uma das principais causas do desequilíbrio fiscal do Estado, chega a ser "dantesca". " Eu duvido que alguém no governo possa acreditar nesse estudo."

Segundo o economista da Unicamp, os dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siaf), do governo federal, que serviram de base para o trabalho do Ipea, não permitem nenhuma conclusão acurada sobre o assunto. "Falar em custo de R$ 250 bilhões é tirar coelho da cartola". Ele pondera que o que se estima de aumento de gastos da Previdência está entre R$ 4 bilhões a R$ 6 bilhões para o aumento real de 12% dado ao salário mínimo este ano. Ainda que o aumento nos últimos dez anos tivesse sido nessa faixa, o efeito acumulado seria de R$ 60 bilhões.