Título: Governo prevê crescimento mundial mais lento
Autor: Adriana Fernandes, Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2006, Economia & Negócios, p. B4

Para secretário do Ministério da Fazenda, Brasil tem papel de estabilização no cenário externo

A economia mundial continuará crescendo, mas num ritmo mais lento que o dos últimos dois anos. Esse é o desfecho mais provável do atual processo de ajuste da economia internacional, na avaliação do secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Luiz Pereira.

"O cenário central com o qual as pessoas estão trabalhando é de uma pequena desaceleração, mas nada que seja uma coisa dramática", afirmou ele, ontem, ao Estado. "A expectativa é que continue o ciclo de crescimento mundial, mesmo que em patamar um pouco menor que o observado nos dois últimos anos, que foi bastante elevado."

Para Pereira, a volatilidade dos mercados internacionais nas últimas semanas é "um processo natural de ajuste técnico" dos investidores, diante da expectativa de "fortalecimento da política monetária nos grandes centros do mundo", ou seja, de alta dos juros nas economias mais importantes.

Pereira e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, terão a oportunidade de ouvir as opiniões sobre o assunto dos principais responsáveis pela condução da economia mundial no fim de semana. Os dois participarão da reunião dos ministros da Fazenda do G-8, a partir de sexta-feira, em São Petersburgo, Rússia. O Brasil é convidado, ao lado de China, Índia, Austrália, Nigéria e Coréia do Sul.

O Brasil tem passado pelo ajuste na economia mundial sem ser afetado de forma excessivamente negativa, avalia o secretário. "Isso porque temos fundamentos robustos, que permitem não repetirmos a situação do passado, onde nossa economia era muito mais afetada por causa da nossa vulnerabilidade externa."

A consolidação macroeconômica e as medidas para reduzir a fragilidade externa levaram o Brasil a desempenhar um papel diferente no cenário mundial, disse o secretário. Em 1999, após o abalo das crises da Ásia e da Rússia, o Brasil passou ao epicentro da turbulência financeira mundial e esteve a ponto de transferir a instabilidade para outras economias. "Hoje, o Brasil é reconhecido como um elemento de estabilização."

Esse reconhecimento do peso do Brasil na economia mundial, avalia Pereira, é uma das razões pelas quais o País vem sendo convidado a participar das reuniões do G-8, o clube dos países mais ricos do mundo.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou das reuniões de 2003 e 2005 e irá também este ano. Em 2004, explicou Pereira, o Brasil não foi convidado porque a pauta era centrada em temas da África.

Dois temas vêm sendo defendidos pelo governo brasileiro desde 2003: maior abertura comercial, notadamente para os produtos agrícolas, e mecanismos mais ágeis de ajuda multilateral a países afetados por choques externos.

O Brasil tem chamado a atenção para a necessidade de criação de mecanismos que garantam acesso rápido aos recursos dos organismos multilaterais de crédito em caso de crise externa. "Países grandes, que têm feito esforços significativos para conseguir a estabilidade, deveriam poder se utilizar de uma espécie de seguro", diz Pereira.

Nesse sentido, foi criado um mecanismo chamado Exogenous Shock Facility (ESF), que permite a países de renda baixa sacar recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial para resolver problemas de balanço de pagamentos provocados por choques externos.

Segundo ele, essa tese não se aplica ao caso brasileiro neste momento, pois o País pagou antecipadamente suas dívidas com organismos internacionais e vem reduzindo sua vulnerabilidade externa. "Estamos pensando no futuro e em outros países."