Título: Recompra de títulos reduz o impacto do discurso no Brasil
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2006, Economia & Negócios, p. B3

Em Wall Street, o índice Dow Jones caiu 1,77% e a Nasdaq, 2,24%

As declarações do presidente do banco central americano (Fed), Ben Bernanke, azedaram o humor dos investidores ontem e derrubaram as bolsas de valores no mundo inteiro. Durante a conferência monetária internacional da Associação Americana de Banqueiros, em Washington, o chefe máximo do Fed demonstrou preocupação com a inflação e deu a entender ao mercado que fará de tudo para conter o aumento de preços ao consumidor.

Foi o suficiente para provocar histeria entre os investidores, que já estavam apreensivos no início da manhã por causa da alta do petróleo com a tensão entre Estados Unidos e Irã. Em Wall Street, o índice Dow Jones caiu 1,77% e a Nasdaq, 2,24%. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) acompanhou Nova York e fechou em forte queda de 3,17%, em 36.739 pontos. O mercado europeu também reagiu ao discurso de Bernanke. A bolsa de Frankfurt recuou 1,16% e o índice FTSE, de Londres, 0,04%. "A conclusão que o mercado chegou é que haverá mais uma alta dos juros americanos, de 0,25 ponto porcentual, na reunião do dia 29", afirmou o gerente do Banco Prosper, Carlos Cintra.

Segundo ele, os dados de emprego divulgados na sexta-feira tinham mudado um pouco a percepção do mercado quanto ao futuro dos juros nos Estados Unidos. Como a criação de postos de trabalho ficou bem abaixo da expectativa, o que indicava uma desaceleração da economia americana, os analistas entenderam que o ciclo de aperto monetário estaria no fim.

Mas o discurso de ontem mostrou o contrário. Agora os investidores ficarão de olho nos próximos indicadores de preços, que saem na semana que vem, afirma a economista da Mellon Global Investments, Solange Srour Chachamovitz. Isso significa que mais volatilidade vem por aí. O grande temor é que o Fed erre a mão e provoque uma desaceleração acima do desejado, influenciando a economia mundial.

No mercado interno, o estrago das declarações de Bernanke não foi tão grande por causa da decisão do Tesouro de recomprar até US$ 4 bilhões em títulos da dívida externa brasileira (ler mais na página B4). O anúncio derrubou o risco país 5,09%, para 261 pontos. O dólar caiu 1,14% cotado em R$ 2,251. "A medida melhora o perfil da dívida e os índices de solvência do País", afirma o economista da corretora López León, Flávio Serrano. Ele explica que o discurso de Bernanke chegou a pressionar o câmbio durante a tarde de ontem. "Mas a notícia de recompra foi mais forte e conseguiu segurar a pressão."

Segundo analistas, a recompra de papéis com prazo de vencimento mais curtos, até 2010, tem o objetivo de reduzir a vulnerabilidade externa do País, com a diminuição da necessidade de financiamento externo do governo. Já entre os papéis de prazos mais longos, a intenção é diminuir distorções existentes na curva de juros.