Título: Decisões sobre juros preocupam mercado
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2006, Economia & Negócios, p. B3

No Brasil, investidores esperam ata do Copom; nos EUA, reunião do Fed

Os investidores se preparam para um período em que terão de decifrar os próximos passos das autoridades monetárias do Brasil e Estados Unidos para calibrar a exposição aos ativos brasileiros. No Brasil, a ata do Copom, que será divulgada quinta-feira, é aguardada com ansiedade, podendo sinalizar se haverá queda da Selic em julho de 0,5 ou 0,25 ponto porcentual ou - como alguns cogitam - se não haverá mudança. Nos EUA, indicadores sobre a inflação e atividade poderão mostrar uma direção mais nítida sobre uma elevação de 0,25 ponto porcentual nos juros ou se vão estacionar.

Entre os analistas de bancos estrangeiros, há um ponto de consenso sobre a ata do Copom: ela deve adotar um tom mais cauteloso. "Ela virá com uma retórica conservadora", diz Nuno Camara, economista do Dresdner Bank em Nova York. Vários fatores justificam a previsão, diz ele: a economia vem crescendo com força, as incertezas em torno da volatilidade externa e o efeito defasado do ciclo de relaxamento monetário que precisa ser monitorado. "O balanço de riscos agora é outro e o BC vai deixar isso claro." Ainda assim ele acredita em novo corte de 0,5 ponto porcentual na Selic.

O economista Paulo Leme, do banco Goldman Sachs, prevê que o tom da ata do Copom será "levemente mais conservador" do que o de abril. "A previsão revisada para o IPCA em 2006 e em 2007, nas pesquisas do BC e do mercado, será mais alta." Além disso, o conservadorismo será estimulado pelo aumento de gastos do governo. "O Copom pode alertar que não está disposto a relaxar demais por causa do provável fortalecimento do crescimento e da demanda doméstica no 3º trimestre."

Para o economista Luis Cezario, do HSBC, a ata deve mostrar que o BC continua confiante no processo de convergência da inflação às metas de médio prazo. "A combinação de inflação corrente baixa, expectativas inflacionárias de longo prazo ancoradas no centro da meta de 2007 e sinais de recuperação nos investimentos devem sustentar uma perspectiva positiva para a inflação."

ESTAGFLAÇÃO Embora os últimos indicadores dos EUA apontem desaceleração no crescimento da atividade, reforçando a aposta numa pausa no ciclo de alta dos juros este mês, a incerteza com os próximos passos do Federal Reserve (banco central do país) deve persistir até a próxima reunião das autoridades monetárias no dia 29. O economista-chefe do banco Morgan Stanley, Stephen Roach, alerta que o risco de estagflação (estagnação econômica com inflação) nos EUA não deve ser menosprezado. "Temores sobre estagflação são o último arranhão que os mercados precisam no momento."