Título: Mais e mais drogas contra o câncer
Autor: Andrew Pollack
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2006, Vida&, p. A16

Grandes companhias despertam para mercado de medicamentos menos agressivos, que deve dobrar até 2010

As grandes empresas farmacêuticas descobriram o câncer. Durante anos, empresas de biotecnologia como a Genentech e a ImClone dedicaram grande parte de sua atenção às chamadas drogas direcionadas - geralmente menos tóxicas que as quimioterapias tradicionais. Mas, neste ano, os dados mais significativos sobre as drogas direcionadas estão vindo das grandes empresas farmacêuticas internacionais.

Médicos da Sociedade Americana de Oncologia Clínica reunidos em Atlanta disseram, anteontem, que o temsirolimus, um medicamento experimental fabricado pela Wyeth, prolongou a vida de pacientes com câncer no fígado em estágio avançado por três a quatro meses, uma descoberta que poderá abrir caminho para a aprovação do remédio em 2007.

Novas informações sobre o Sutent, da Pfizer, podem tornar o medicamento, que já está no mercado, a primeira escolha para tratamento do câncer do fígado. No sábado, um remédio para câncer de mama, o Tykerb, da GlaxoSmithKline, foi o centro das atenções.

Há vários anos que Glaxo, Pfizer e Wyeth não marcavam presença na área de câncer. Mas as farmacêuticas acordaram para as descobertas científicas e os fatores comerciais - especialmente os altos preços dos remédios.

Mas a nova corrida contra o câncer poderá resultar numa avalanche de medicamentos repetidos. Numerosas farmacêuticas e companhias de biotecnologia estão desenvolvendo remédios que buscam sufocar o fluxo de sangue para os tumores ou interferir nas proteínas dentro do tumor que desencadeiam o seu crescimento.

"Vamos precisar de cartões de memorização para nos lembrar do nome de todos esses agentes no futuro", diz Hope Rugo, da Universidade da Califórnia, depois de fazer uma palestra sobre uma série de drogas de ação semelhante e nomes parecidos.

Cerca de 400 medicamentos para câncer de 178 empresas estão em fase de testes clínicos. Isso é o dobro da quantidade de medicamentos que estão sendo testados para doenças como o mal de Alzheimer e a depressão e quase o triplo dos medicamentos para ataque cardíaco e derrame.

Para os pacientes, a avalanche de medicamentos é uma boa notícia porque significa mais chance de encontrar um medicamento, ou uma combinação deles, que funcione em seu caso. "Do ponto de vista do paciente, nunca é demais", diz Robert J. Motzer, especialista em câncer do fígado do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center em Nova York. O aumento da concorrência poderá significar também que as fabricantes se esforçarão mais para reduzir efeitos colaterais.

A competição também poderá colaborar para baixar os preços, que agora atingem US$ 100 mil por ano no caso de algumas drogas contra o câncer, muito embora o custo total para os pacientes possa subir à medida que usar mais drogas combinadas.

Recentemente, analistas da Merrill Lynch avaliaram que o mercado para medicamentos de combate ao câncer dobrará dos US$ 25 bilhões atuais para US$ 50 bilhões em 2010. Porém, devido ao aumento da competição, o potencial de vendas para cada medicamento cairá de 21% a 32%.

REVISÃO Os resultados de um estudo comparando medicamentos para tratamento de câncer de mama contrariaram a avaliação do governo americano, pela qual o tamoxifeno é mais seguro que o raloxifeno - uma nova droga, aprovada apenas para prevenir osteoporose. O Instituto Nacional de Câncer dos EUA afirma, com base em um estudo que lhe custou US$ 88 milhões, que ambos são eficazes em baixar os riscos de modalidades graves de câncer de mama. Mas usuárias de raloxifeno têm 36% menos casos de câncer uterino e 29% menos coágulos sanguíneos, tornando-o uma opção mais segura. Especialistas acham que os dados são estatisticamente controversos, mas concordam em que as drogas se equivalem.