Título: OAB pede à Procuradoria nova apuração contra Lula
Autor: Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2006, Nacional, p. A6

Ordem envia notícia-crime ao procurador-geral da República e cita omissão do presidente no mensalão e negócios da empresa de seu filho

O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Roberto Busato, encaminhou ontem ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, notícia-crime pedindo que sejam aprofundadas as investigações contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do mensalão e de outras irregularidades relacionadas ao governo.

Apesar da iniciativa da OAB, a expectativa é que Souza não tome nenhuma medida contra o presidente. No mês passado, o procurador afirmou que Lula não teve envolvimento com a compra de apoio no Congresso e disse não ter encontrado nada contra ele na apuração que levou à denúncia de 40 pessoas.

No pedido entregue na procuradoria, Busato cita três motivos para que Souza tome providências: 1) as ligações entre a Telemar e a empresa Gamecorp, de Fábio Luiz da Silva, um dos filhos de Lula; 2) o decreto presidencial que facultou ao Banco BMG atuar no crédito a funcionários federais sem que a instituição integre a rede de pagamentos do sistema previdenciário; 3) a omissão de Lula nos episódios do mensalão.

De acordo com o documento assinado por Busato, houve "um affaire Gamecorp/Telemar". A Gamecorp associou-se com a Telemar "em operação milionária, sequer comunicada à Comissão de Valores Mobiliários (CVM)", observou o presidente da OAB.

Busato disse que ocorreu "indesculpável e inexplicável omissão (no mínimo) do presidente da República, nos episódios do mensalão e das compras de votos, na formação de caixa 2 para o financiamento das campanhas eleitorais do Partido dos Trabalhadores e na prevenção/fiscalização/repressão a atos de improbidade administrativa cometidos pelos (seus) mais chegados auxiliares."

Segundo Busato, o "nada sei" dito freqüentemente por Lula foi a maneira que ele encontrou para se proteger. "Mas ele tendo se protegido dessa forma deixou a população brasileira muito insatisfeita com relação ao entendimento exato sobre o que o presidente da República sabia e o que não sabia, se ele foi alvo de traição por seus amigos diletos ou se estava consciente do que estava acontecendo."

A OAB analisou em maio e rejeitou uma proposta de impeachment de Lula. Na mesma sessão, a entidade aprovou o encaminhamento da notícia-crime à Procuradoria Geral da República.

Segundo o presidente da OAB, uma das principais peças levadas em conta na ocasião foi a denúncia formulada recentemente no Supremo Tribunal Federal (STF) por Souza contra 40 pessoas suspeitas de envolvimento com o mensalão - entre elas, o ex-ministro e deputado federal cassado José Dirceu.