Título: Cada um com seu cada qual
Autor: Dora Kramer
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2006, Nacional, p. A6

Lula e Alckmin contam com vantagens e desvantagens mútuas na campanha

Se o resultado da eleição pudesse ser definido só com base no princípio de que o candidato que disputa a reeleição no posto é sempre favorito e, em geral, ganha mesmo, o presidente Luiz Inácio da Silva estaria realmente eleito conforme dizem as pesquisas.

Embora o exercício do poder seja uma vantagem comparativa enorme, não é o único fator a ser levado em conta na disputa eleitoral. A oposição também dispõe de pontos a seu favor, bem como Lula pode contar com outras condições favoráveis além do fato de ser presidente.

O sociólogo e consultor na área de comunicação política Antônio Lavareda Filho listou cinco fatores que favorecem Geraldo Alckmin na tentativa de conseguir "virar o jogo" e cinco que podem levar Lula a consolidar sua dianteira até a vitória, seja no primeiro ou no segundo turno.

Primeiro, a lista de Lula, encabeçada justamente pela vantagem mais óbvia: a taxa de reeleição do ocupante do cargo. Na ainda incipiente experiência brasileira ela é de cerca de 80%, aqui considerando os resultados para prefeitos e governadores, já que este agora é o segundo episódio de reeleição presidencial.

Nos Estados Unidos, o índice é superior. Das 14 eleições realizadas de 1952 (quando a televisão entra em cena) para cá, só 3 foram perdidas por presidentes em disputa do segundo mandato; em 2 delas, a economia ia mal.

E este, o bom desempenho da economia, é o segundo fator favorável a Lula arrolado por Lavareda. O terceiro são os dados de comparação com o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, percebido por 53% da população como pior que o atual governo.

"Por mais que o correto fosse comparar com o primeiro período de FH, fica valendo para efeitos eleitorais a percepção negativa do segundo", diz o sociólogo.

A quarta vantagem de Lula, segundo ele, é o efeito dos programas de distribuição de recursos sobre a renda dos mais pobres.

A quinta, "resultado de uma estratégia bem-sucedida da defesa", é a "equivalência moral" pela qual o PT passou a ser percebido como igual a todos os partidos, nem melhor como dizia ser nem pior.

Agora, a lista de Alckmin, liderada pelo item ambiente de campanha. "É sempre mais favorável à oposição, principalmente no período em que a lei assegura maior simetria de recursos. Embora o cargo garanta sempre alguma vantagem, a oposição é mais livre para atacar e fazer discursos de expectativa, enquanto governos precisam lidar com as próprias realidades."

De acordo com Lavareda, o candidato do PSDB tende a contar com a classe média, perdida pelo presidente Lula em relação a 2002, e está aí a sua segunda vantagem.

A terceira, o porcentual de 38% de avaliação positiva do governo. "Só índices superiores a 45% dão relativa tranqüilidade e, ainda assim, quando consolidados. Os de Lula hoje estão estacionados, mas já variaram entre 76% e 27%."

O quarto ponto da lista de Alckmin pode ser o apoio das camadas de maior renda e taxa de escolaridade, "por causa da influência do topo sobre a base da pirâmide social".

Por último, o segundo turno que, realizando-se, será uma meia vitória de Alckmin. Pelas contas de Lavareda, "está longe" de ser impossível: "A diferença entre os dois é de 20 pontos. Portanto, o desafio da oposição é conquistar a metade disso."