Título: Lula e Alckmin fazem a guerra dos bordões
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/06/2006, Nacional, p. A6

A disputa presidencial começa a desenhar, de um lado, ataques cada vez mais intensos da oposição e, de outro, o discurso de auto-exaltação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas para estratégias opostas os candidatos usam recursos idênticos: a repetição à exaustão de termos, comparações e promessas. Não há um discurso em que o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, não fale em "choque de gestão"; agora ele adotou o termo "roubalheira" para resumir o comportamento do governo petista no poder.

Lula bate sempre na mesma tecla: diz que nunca, em tempo algum, um governante fez tanto quanto ele, desde a descoberta do Brasil. "Não há dúvida de que o uso do superlativo, pelo presidente, é uma peça de campanha e tende a ficar mais intensa. Mas ele tem se cuidar para não dizer que descobriu o Brasil e cair no ridículo", diz o cientista político Marcus Figueiredo, do Iuperj e especialista no estudo da persuasão política.

Quarta-feira, no Rio, Lula chegou a dizer que "só Deus conseguiria consertar em quatro anos o que não foi feito em quinhentos anos". Para o deputado petista Sigmaringa Seixas (DF), os exageros de Lula são naturais. "Não chega a ser um pecado", diz o petista. "A verdade é que eles nunca imaginaram que o governo fosse dar certo."

CHOQUE DE GESTÃO

Figueiredo avalia que Alckmin ainda "está perdido no que dizer à população". Para o pesquisador, o tucano precisa ser mais claro nas propostas. "O que é esse choque de gestão? Em 1989, Mário Covas propôs o choque de capitalismo. Ficou claro porque a indústria precisava sair da guarita do Estado. Agora, não. Se Alckmin acha que o País tem sido gerido de forma incorreta, tem que apontar onde está o erro", afirma.

Outro ponto recorrente no discurso de Lula é realçar sua origem humilde. "Sei o que é passar fome", "sou retirante", "eles nunca imaginaram que um operário poderia fazer o que estamos fazendo neste País" - são frases que ele não cansa de repetir. A insistência em alguns pontos é importante para a fixação do que o publicitário Edson Barbosa - que fez os programas de TV do PT este ano - chama de "idéia-força". "Ela pega quando tem substância. O mais importante é que ele diga a verdade, que os dados sejam incontestáveis", diz ele.

PSDB e PFL ainda buscam o melhor formato do discurso. Acham que o candidato deve ser propositivo e procuram uma forma de explorar os escândalos de corrupção do governo Lula. Alckmin fabricou o seu bordão: "Nunca se viu tanta roubalheira, tanto banditismo". Mas isso não é suficiente, segundo o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN).

O senador sugeriu que Alckmin misture propostas e críticas sobre fatos mais atuais. Ele não vê resultados em repisar o mensalão: "Tem de ser o crítico ácido do que acabou de acontecer. Quanto mais Lula abre a boca, mais bobagem fala. Ele tem que ser criticado por isso. Não adianta falar do passado".

Muitos pefelistas discordaram do vice José Jorge, que disse, quinta-feira, que o presidente Lula "bebe muito". Para a oposição, o ataque pessoal pode causar efeito contrário. O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), apontou na hora o "desespero" da oposição."Alckmin não pode ser um agressor gratuito", diz Agripino.

No embate que promete ficar cada vez mais acirrado, Lula e Alckmin mostram visões opostas para todos os assuntos. No caso do mensalão, por exemplo, enquanto o tucano cobra punição para o "chefe dos 40 ladrões", Lula diz que "a verdade ainda aparecerá" e que houve "muita injustiça" nas investigações das CPIs. Na economia, Alckmin vê crescimento medíocre e Lula promete o melhor desempenho dos últimos anos.

Figueiredo acha que a campanha de 2006 será "mais morna" que a de 2002, em que Lula venceu José Serra. Embora não digam em público, os petistas gostaram da escolha de Alckmin: Serra, dizem, seria um candidato mais difícil de enfrentar, por seus discursos duros e propostas veementes.