Título: Para filha de Che Guevara, MST é vanguarda
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/06/2006, Nacional, p. A10

Filha de Che Guevara, a médica cubana Aleida Guevara, 45 anos, disse ontem que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez pouco pela reforma agrária e instigou o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) a continuar sendo "a vanguarda dos movimentos de luta pela terra na América Latina".

Em visita ao Centro de Formação Paulo Freire, no assentamento Normandia, coordenado pelo MST em Caruaru, agreste pernambucano, ela minimizou a responsabilidade do presidente Lula por não ter cumprido promessas de campanha relativas à reforma agrária: "O Congresso nem sempre apóia o presidente e esse País não é mandado por um presidente."

Festejada, elogiada e homenageada pelos sem-terra, pela superintendente do Incra no Recife, Maria de Oliveira, e estudantes de Medicina, Aleida Guevara, especialista em alergologia infantil, qualificou o MST como um dos mais importantes movimentos de luta pela terra na América Latina e destacou a unidade e coerência do movimento. "O MST possui cinco milhões de filiados no Brasil".

Antes de deixar o assentamento, para participar do encerramento da XIV Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba, no Recife, Aleida comeu milho, canjica e bolo de milho - comidas típicas da época junina. Ao som de banda de pífanos e sanfona, integrantes do MST dançaram forró e quadrilha.

VOLUNTARIADO

Indagada se aprova os métodos utilizados pelo MST de invasão de terra e destruição de patrimônio - a exemplo do laboratório da Aracruz, no Rio Grande do Sul - Aleida Guevara disse que não faz julgamentos. "Não posso julgar. Vivo longe e tenho casa, alimentação. É muito fácil julgar quando não se vive essa realidade", disse.

A médica cubana repetiu que a ação é mais importante que a palavra, e dedicou parte do seu discurso à grandeza da ação voluntária, essência da condição humana. "A melhor forma de convivência social é através da satisfação do trabalho voluntário", resumiu.

A reforma agrária, em si, segundo ela, não resolve a questão da exclusão social, sendo preciso mudar os meios de produção e comércio. E frisou que a "verdadeira" reforma agrária vai além de se conseguir um pedaço de terra. "A terra é coletiva, não deve ser usada para se ter mais dinheiro no bolso, mas para que as pessoas vivam melhor" , disse, emocionando os presentes.