Título: PMDB governista descarta fazer coligação formal para reeleger Lula
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2006, Nacional, p. A4

A cúpula governista do PMDB descartou a hipótese de se coligar com o presidente Lula nesta eleição. Em meio à ofensiva para ter um vice peemedebista, Lula convidou os dirigentes da ala governista para um encontro ontem à noite no Palácio do Planalto. Antes de ir até lá, o líder no Senado, Ney Suassuna (PB), antecipou a decisão: o partido não fechará formalmente com o PT para escapar da verticalização e poder liberar as alianças em torno de seus 15 candidatos a governador com boas chances de vitória.

"Lula sonha todos os dias com um vice que se chama Nelson Jobim (ex-presidente do Supremo Tribunal Federal), mas nem um vice divino serviria para nós", resumiu Suassuna, ao adiantar que os governistas fariam uma contra-oferta: a criação de um movimento pró-Lula dentro do PMDB, que pode reunir diretórios de até 19 Estados. "Na hipótese mais pessimista, Lula terá o apoio do partido em no mínimo 16 Estados", avaliou.

Foram convidados para o encontro no Planalto o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), o senador José Sarney (AP), o líder na Câmara, Wilson Santiago (PB), e os deputados Jader Barbalho (PA) e Eunício Oliveira (CE). Nos seus Estados, o apoio à reeleição já é dado como certo. Os que mais resistem a qualquer tipo de parceria com o PT são Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Rio de Janeiro e Pernambuco, onde petistas e peemedebistas vivem às turras. Mas também há fortes resistências em Sergipe, Rio Grande do Norte, Acre, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.

Como há problemas com o PT mesmo nos Estados onde o diretório do PMDB já apóia a reeleição, Suassuna afirmou que seu grupo aproveitaria o encontro para pôr as dificuldades na pauta de negociações. A idéia era cobrar reciprocidade dos petistas nos Estados em que o PMDB é franco favorito na briga pelo governo. É o caso da Paraíba, onde o PT praticamente inexiste, mas lançou a candidatura de José Neto contra o senador José Maranhão (PMDB), que já enfrenta uma dura batalha para vencer o governador Cássio Cunha Lima (PSDB), que tenta a reeleição.

CONVENÇÃO

A convenção extraordinária do PMDB convocada por 9 diretórios estaduais para domingo também entraria na conversa com Lula. A convocação, publicada no Diário Oficial da União ontem, é outra ofensiva do grupo do ex-governador Anthony Garotinho para tentar manter de pé a candidatura própria do PMDB à Presidência.

Segundo os governistas, no entanto, só a Executiva Nacional do partido tem poder de convocar a convenção ordinária que dará a palavra final sobre a candidatura. E na executiva, diz Suassuna, os governistas, somados aos independentes e ao grupo que prefere aliar-se ao pré-candidato do PSDB a presidente, Geraldo Alckmin, têm maioria folgada de 11 votos a 4.

"Candidatura própria é assunto morto no partido e essa convenção extraordinária não passa de uma manobra diversionista de quem não tem o que fazer", criticou o deputado Geddel Vieira Lima (BA), certo de que ela não ocorrerá. "O partido não terá candidato. Tanto que o senador Pedro Simon (RS) já declarou que vai disputar o Senado e Orestes Quércia (presidente do PMDB paulista) também admitiu que a candidatura própria não tem chance."

O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), deve reunir a Executiva Nacional esta semana para discutir a convocação. Na verdade, a iniciativa do grupo de Garotinho acabou atropelando uma articulação dos governistas com setores que defendem a candidatura própria, para matar de vez o assunto. A idéia era antecipar a convenção em um grande acordo para descartar a tese do candidato próprio, dando uma saída honrosa para Simon desistir da disputa e assumir sua candidatura ao Senado.