Título: Presidente lança plano pela 3ª vez e critica promessas
Autor: Leonêncio Nossa e Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2006, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que não mente em campanha e acusou adversários de fazer falsas promessas. Mas, em solenidade no Palácio do Planalto, ele anunciou, pela terceira vez em dois anos, o plano de desenvolvimento sustentável da área cortada pela BR-163, no Pará. E, de manhã, no programa Café com o Presidente, afirmou que resolveria "definitivamente" o Ferroanel - um ramal ferroviário nas vizinhanças de São Paulo que faz parte dos planos de governo de seus adversários tucanos.

"Na campanha de 1989 fui a Santarém, quando companheiros de fé queriam que eu assumisse o compromisso de construir a rodovia (BR-163)", lembrou. "Sei que outros foram, governaram, mas não fizeram a rodovia. Eu não prometi porque era contar uma mentira. E depois de tantos anos estamos aqui falando da BR-163."

O governo anunciou pela primeira vez o plano da BR-163 em fevereiro do ano passado, para atenuar críticas por suposta omissão no caso do assassinato da missionária Dorothy Stang, no Pará, morta a mando de grileiros. Depois, em fevereiro deste ano, realizou solenidade para anunciar a criação de um distrito florestal, que iria impedir a destruição da floresta com a pavimentação da BR-163.

Ontem a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, acabou ficando numa saia-justa para tentar explicar em entrevista o motivo de o governo anunciar mais uma vez o projeto. Ela negou que a solenidade fizesse parte do esforço de Lula para se reeleger e se esquivou com uma frase de efeito: "Quando assumi, o presidente pediu que pensasse nas próximas gerações, e não nas próximas eleições."

Ainda na solenidade, Lula se elogiou pela conclusão do gasoduto Coari-Manaus, outra obra que segundo ele foi prometida pelos antecessores. "(O gasoduto) nunca foi feito, pois nunca se levou a sério a combinação do desenvolvimento sustentável com a política correta, mesmo que demore um pouco. Nossa futura geração será eternamente agradecida pelo exemplo que nós vamos dar ao mundo de como é possível sermos brasileiros e não sermos predadores."

"INSENSATEZ"

No mesmo tom de campanha da cerimônia, Lula usou seu programa semanal de rádio para classificar de "insensatez" o fato de governos anteriores não terem investido em ferrovias. "Estamos pensando em resolver definitivamente a questão do Ferroanel porque queremos que os trens que vêm da região central, com cargas, não ocupem os trilhos dos trens que transportam passageiros."

Lula disse que a malha do Ferroanel pode ter dois braços, um com destino ao Porto de Santos e outro, ao Porto de Sepetiba (RJ). "Isso sem atrapalhar os passageiros de trem, porque em São Paulo muita gente pega trem." Segundo ele, a obra pode ser construída por meio de parceria público-privada (PPP) - ao custo de R$ 2 bilhões, de acordo com cálculos do Ministério dos Transportes.

No rádio, o presidente também destacou a retomada das obras da Ferrovia Norte-Sul, iniciada no governo José Sarney (1985-1990), que liga as Regiões Centro-Oeste e Norte, e a Transnordestina, que corta o semi-árido e passa por Pernambuco, Piauí, Paraíba, Rio Grande do Norte e Bahia. Depois de dizer que de 1987 a 2003 seus antecessores construíram 215 quilômetros da Norte-Sul , assegurou que vai inaugurar, em outubro, 150 quilômetros da ferrovia. Já na Transnordestina, prometeu investir R$ 4,5 bilhões na recuperação de 1.150 quilômetros e na construção de um trecho de 646 quilômetros. Hoje, ele estará em Missão Velha, no Ceará, para iniciar as obras da Transnordestina.