Título: Júri atrai moradores de Ibiúna
Autor: Laura Diniz, José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2006, Metrópole, p. C1,3

De 50 a 80 pessoas permaneciam diante do fórum da cidade, que recebeu reforço na segurança de 40 PMs

A Polícia Militar mandou 40 homens para fazer a segurança do Fórum onde está sendo julgado o jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves, na Praça Monsenhor Antonio Pepe, centro de Ibiúna. Até a noite, não houve registro de incidentes. Entre 50 e 80 pessoas permaneciam na frente do prédio, a maioria atraída pela movimentação da imprensa.

A professora Sara de Oliveira Batista, de 48 anos, estava na lista de jurados, mas foi excluída pelos advogados de defesa. "Eles preferem um júri de homens", lamentou. A estudante Danila Melo de Lima, de 22, criticou a lentidão da Justiça. "Se fosse nos Estados Unidos, ele (Pimenta) estava no corredor da morte." O agricultor José Pedro de Camargo, de 42, saiu do sítio na tentativa de assistir ao julgamento. Sua propriedade fica perto do Haras Setti, onde a jornalista foi morta. Ele costumava ver Sandra passear a cavalo. "Era simpática, cumprimentava as pessoas." Outro lavrador, Walter Vieira de Camargo, de 49, acha que Pimenta sairá livre. "Justiça é para pobre e, se ele não fosse rico, não teria toda essa gente aqui."

A administração do fórum encomendou 49 embalagens de marmitex para o almoço dos jurados, policiais, internos, promotor, juiz e réu, cada uma a R$ 3,50. Segundo o dono do restaurante que forneceu a comida, Marco Antonio Vieira Ribeiro, foram servidos arroz, feijão, filé de frango grelhado e salada.

Até sair a sentença, os jurados ficam aos cuidados da Justiça. Ao fim da sessão de ontem, seriam levados para uma pousada na cidade ou na região e ficariam isolados de todas as outras pessoas. Essa regra vale para preservar a isenção do Conselho de Sentença.

Durante grande parte do dia, a maioria dos jurados não pareceu prestar muita atenção à leitura dos laudos e depoimentos do processo, feita por oficiais de Justiça. As muitas horas dedicadas à leitura dos autos levaram um dos sete jurados ao sono. Por alguns minutos, ele abaixou a cabeça e fechou os olhos, levantando o pescoço de repente, assustado com o burburinho da platéia.

VIOLÊNCIA

Com pouco mais de 60 mil habitantes, Ibiúna registra índice de homicídios muito superior ao de cidades vizinhas do mesmo porte, como Piedade. Supera em assassinatos, inclusive, Sorocaba, maior cidade da região, com 650 mil habitantes. O índice de homicídios dolosos por 100 mil habitantes, segundo estatística da Secretaria da Segurança Pública do Estado, foi de 28,95 no ano passado. Em Piedade foi de 13,06 e, em Sorocaba, de 18,02. Em 2004, os números foram piores em Ibiúna: 34,98 homicídios por 100 mil pessoas, enquanto Piedade teve 3,78 e Sorocaba, 19,59.

A polícia local, que reclama da grande extensão do município e da invasão da cidade nos fins de semana por donos de chácaras de recreio - o que atrairia a criminalidade da Grande São Paulo -, registra pelo menos 2 homicídios por mês. Foram 29 no ano passado e 25 no anterior. Em 2005, foram realizadas 15 sessões de júri no fórum, um número elevado para o porte da comarca.