Título: Lentamente, camada de ozônio se recupera
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2006, Vida&, p. A18

Controle de CFCs ajuda, mas futuro depende dos gases do efeito estufa

A camada de ozônio, que protege a Terra da superexposição aos raios ultravioleta, tem mostrado sinais de recuperação graças ao controle da emissão de gases pelo homem. Contudo, a capa dificilmente voltará a ser o que era antes da década de 1980 por causa de novas condições climáticas.

A constatação vem de uma pesquisa feita em colaboração por cientistas americanos e dinamarqueses, e apresentada hoje na revista britânica Nature (www.nature.com). A equipe analisou dados de satélites e estações de medição, além de 14 modelos climáticos, e descobriu que os níveis de ozônio se estabilizaram ou subiram ligeiramente nos últimos dez anos.

Análises anuais da camada, feitas por outros grupos de cientistas, já apontavam nessa direção, que agora é confirmada pelos novos dados. O controle de clorofluorcarbonos (CFCs, usados em geladeiras, condicionadores de ar e sprays antigos), do pesticida brometo de metila e dos halons (agentes de extintores de incêndio), foi essencial para que a situação fosse controlada.

O banimento destes gases foi determinado no Protocolo de Montreal, acordo internacional de 1987 ratificado por 180 países, inclusive o Brasil.

CUIDADO NUNCA É DEMAIS

A comemoração, contudo, deve ser moderada. A destruição da camada diminuiu. Mas a população precisa ainda tomar cuidado com a radiação, e manter a proibição de gases que destroem a capa protetora.

São dois os motivos: a recuperação completa tomará décadas; e os gases do efeito estufa, que ameaçam atualmente o equilíbrio climático do planeta, podem atrasar o processo.

"Hoje temos confiança para afirmar que a camada de ozônio está respondendo à redução dos níveis de cloro na atmosfera devido à diminuição de CFCs, por causa do Protocolo de Montreal", afirmou Betsy Weatherhead, da Universidade do Colorado em Boulder, principal autora do estudo.

"Mas, em 50 anos, os gases CFCs não serão o fator determinante para controlar o ozônio. Acreditamos que serão os gases do efeito estufa, o óxido nitroso e o metano. Nós realmente não achamos que o ozônio vai voltar a se estabilizar nos níveis originais."

Além disso, ela lembra que a atividade vulcânica mundial foi pouca nos últimos dez anos, o que pode ter impulsionado a recuperação do ozônio.

Os vulcões expelem sulfatos na atmosfera que destroem a camada. A última grande explosão vulcânica data de 1991, quando o Monte Pinatubo, nas Filipinas, entrou em erupção.

Weatherhead também diz que o impacto da atividade solar, particularmente intensa na década de 1990, foi subestimado nas contas sobre a recuperação do ozônio.

A pesquisa confirma que a destruição da camada foi mais severa nos pólos do planeta e em faixas da América do Norte, da América do Sul e da Europa. A exposição aos raios ultravioleta aumenta o risco de câncer de pele e catarata, pode danificar cultivos e atrapalhar o ecossistema marinho.

CONTROLE

A despeito do debate científico sobre a eficiência real do Protocolo de Montreal, os países signatários continuam aquém de suas metas.

Ontem, o governo cubano divulgou que o uso de CFCs no país caiu 50% em 2005 em relação a 2004: foram 212 toneladas no ano passado. O valor é três vezes menor do que o volume usado dez anos antes, mas ainda distante do objetivo do país para 2007, que é de 93 toneladas de CFCs.

O coordenador do Escritório Técnico de Ozônio de Cuba, Nelson Espinosa, aproveitou a divulgação dos dados para criticar os Estados Unidos, que pedem um prazo maior para deixarem de usar o brometo de metila.