Título: ONU já estuda resolução contra Irã
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2006, Internacional, p. A16

Representantes da França e Grã-Bretanha apresentaram anteprojeto ao Conselho de Segurança que prevê sanções

Determina que o Irã suspenda as atividades relacionadas ao enriquecimento e reprocessamento de urânio e pare de construir um reator de água pesada.

Remete ao Capítulo 7 da Carta da ONU, que torna a resolução de caráter obrigatório.

Expressa intenção do Conselho de estudar medidas futuras para fazer o Irã cumprir a resolução.França e Grã-Bretanha, com apoio dos EUA, enviaram ontem ao Conselho de Segurança da ONU, principal instância da organização, anteprojeto de resolução determinando que o Irã suspenda todas as atividades relacionadas ao enriquecimento de urânio. Também exige que interrompa a construção de um reator de água pesada, parte de seu programa nuclear.

Essa pressão sobre o Irã é resultado da suspeita do Conselho de que o país tenha um plano secreto para produzir armas atômicas, apesar de insistir que seu único objetivo é o uso da energia nuclear para a produção de eletricidade. A desconfiança sobre o Irã aumentou depois que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) - órgão da ONU - comprovou anos atrás que o país ocultava instalações nucleares.

O anteprojeto faz as exigências em nome da segurança internacional, referida no Capítulo 7 da Carta da ONU, o que torna seu cumprimento obrigatório, permite o recurso a sanções e possivelmente o uso da força. Os 15 membros do Conselho iriam reunir-se ontem à noite, a portas fechadas, para iniciar negociações sobre o texto.

Diplomatas na sede da ONU disseram que a meta é levar a resolução à aprovação antes de segunda-feira, quando os chanceleres dos membros permanentes do Conselho (EUA, França, Grã-Bretanha, Rússia e China), mais a Alemanha, se reunirão em Nova York. Ainda não está claro se esse texto preliminar tem chance de ser aprovado, já que os membros permanentes possuem direito a veto.

China e Rússia têm se oposto com firmeza a qualquer resolução que faça referência ao Capítulo 7, pois não apóiam sanções e menos ainda a ameaça de intervenção militar. Ao ser indagado se um texto remetendo ao Capítulo 7 seria aceitável, o embaixador chinês na ONU, Wang Guangya, respondeu apenas: "Não, não, não."

Já o embaixador russo, Vitaly Churkin, saiu pela tangente. Declarou que a Rússia tem problemas com alguns aspectos do anteprojeto, mas apóia a decisão de levar o caso à consideração da ONU. "Vamos fazer o trabalho duro e deixar as coisas grandes para nossos ministros", disse Churkin, quando lhe perguntaram se o Conselho poderia deliberar antes da reunião dos ministros de Relações Exteriores, na segunda-feira.

A divisão no Conselho ficou bem clara terça-feira na reunião prévia de representantes das principais potências em Paris, na qual não surgiu uma posição comum. Ontem o Conselho se reuniu pela primeira vez desde que a AIEA lhe enviou sexta-feira um relatório sobre o programa iraniano, destacando que o país não atendeu ao pedido do Conselho, em 29 de março, de suspender o enriquecimento de urânio. O minério altamente enriquecido pode ser usado tanto para fins pacíficos como em armas nucleares.

O próprio Irã anunciou em abril novos avanços nessa atividade e deixou claro que não pretende abandoná-la, por considerar seu direito desenvolver todo o ciclo da tecnologia nuclear. O presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, acusa o Ocidente de usar dois pesos e duas medidas, por nada fazer contra Israel, que tem armas nucleares, segundo peritos internacionais, enquanto o Irã não tem tecnologia para isso. Ahmadinejad agravou a crise ao declarar várias vezes que "Israel tem de ser varrido do mapa".

Em Washington, o presidente George W. Bush voltou a exigir que o Irã recue. "Não nos dobraremos", disse. "Pelo bem da paz mundial, os iranianos devem abandonar suas ambições por armas nucleares."