Título: Oficial: García e Humala no 2º turno
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2006, Internacional, p. A15

Tribunal eleitoral proclamou que o social-democrata e o militar nacionalista disputarão presidência do Peru

O social-democrata Alan García foi confirmado oficialmente ontem como o adversário de Ollanta Humala no segundo turno das eleições presidenciais do Peru, confirmadas para 4 de junho. O presidente do Jurado Nacional de Eleições (JNE), Enrique Mendoza, disse que os votos ainda não apurados já não podiam afetar o resultado final, encerrando as esperanças de Lourdes Flores de disputar com Humala. Logo em seguida, ela reconheceu a derrota.

Com 99,98% dos votos apurados, Humala tinha 30,62%. García tinha 24,32% e Lourdes, 23,80%. Em votos, García tem uma diferença de apenas 64 mil sobre Flores, em um universo de cerca de 12,3 milhões.

A divulgação do resultado oficial foi feita 24 dias após o primeiro turno. García chegou a ironizar a demora, dizendo que a presidente da Oficina Nacional de Processos Eleitorais, o órgão encarregado da contagem, Magdalena Chu, precisava que um príncipe "lhe desse um beijo para despertar a Bela Adormecida", para terminar o trabalho. Lourdes, da aliança Unidade Nacional, apresentou pedidos de impugnações para tentar reverter o resultado, sem sucesso. García, de 56 anos, governou o Peru entre 1985 e 1990. Ele é candidato pela Aliança Popular Revolucionária Americana (Apra). É a segunda vez que vence Lourdes por um lugar no segundo turno presidencial. Em 2001, García conseguiu passar para a disputa direta com Alejandro Toledo, mas acabou perdendo para o atual presidente.

O adversário de García, Ollanta Humala, da União pelo Peru, é um personagem polêmico. Tenente-coronel da reserva do Exército, liderou, ao lado de seu irmão Antauro, uma revolta contra o então presidente Alberto Fujimori, em 2000. Além da disputa eleitoral, Humala tem que lidar também com as declarações intempestivas de sua família. O irmão Antauro já se manifestou a favor do assassinato de políticos e homossexuais. O pai, Isaac, defendeu a concessão de anistia aos guerrilheiros do Sendero Luminoso.

Na segunda-feira, o nacionalista foi acusado por García de "ter um contrato com (o presidente da Venezuela Hugo) Chávez". Humala negou e disse não ter "padrinhos internacionais".

O comentário foi feito no contexto das provocações entre os dois países. Após Chávez criticar o acordo de livre comércio do Peru com os EUA, García chamou-o de "sem-vergonha", pois a Venezuela exporta grandes quantidades de petróleo para os americanos. Na sexta, Chávez chamou García de "ladrão" e, no sábado, disse que ele e Toledo eram "jacarés do mesmo poço". A declaração levou o governo peruano a retirar seu embaixador de Caracas.

'DUO LAMENTÁVEL' Em editorial, The New York Times lamentou que a disputa no Peru seja entre García e Humala. O jornal qualificou-os de "duo lamentável" que exemplifica o descrédito da política na América Latina.