Título: UE interrompe diálogo com Sérvia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2006, Internacional, p. A13
País não cumpriu condição básica: a prisão de Ratko Mladic, acusado do massacre de 8 mil muçulmanos bósnios
A União Européia decidiu ontem interromper as conversações para assinatura de um acordo de associação com a Sérvia - primeiro passo para admitir o país balcânico como candidato a ingresso na UE. O governo sérvio não cumpriu uma condição básica: a entrega ao Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (TPII) do general Ratko Mladic, um oficial servo-bósnio acusado, entre outros crimes, de genocídio durante a guerra da Bósnia (1992-1995). Como comandante das forças servo-bósnia, Mladic também ignorou todos os apelos dos governos europeus e americano para facilitar o fim do sangrento conflito.
Para admitir um sócio, além dos ajustes econômicos, a UE exige do país candidato reformas democráticas nos padrões da comunidade e, sobretudo, total respeito aos direitos humanos. O prazo dado ao governo sérvio para prender e extraditar Mladic para a Holanda, sede do TPII, expirou em fins de abril. Mas ao usar a expressão "interromper" em vez de "suspender", a UE deixou aberta uma porta para a retomada das negociações quando Mladic, envolvido diretamente no massacre de 8 mil muçulmanos bósnios da cidade de Srebrenica em 1995, for capturado.
O militar que encabeça a lista de mais procurados do TPII, com o ex-líder político servo-bósnio Radovan Karadzic, estaria escondido numa região montanhosa da Sérvia na divisa com Montenegro. Ambos são considerados heróis pelos setores ultranacionalistas sérvios que ainda exercem uma grande influência no país. Eles estariam recebendo apoio logístico para fuga e esconderijo de muitos desses simpatizantes.
O primeiro-ministro sérvio, Vojislav Kostunica, reagiu afirmando que a decisão da UE terá graves conseqüências em seu país, que enfrenta problemas econômicos e políticos crônicos. Ele disse ter feito o possível para capturar Mladic. "Já prendemos todas as pessoas que davam apoio a ele", afirmou. "Ele está isolado em seu esconderijo, cuja localização ignoramos completamente."
Kostunica pediu a Mladic que ponha os interesses do país acima dos seus , pessoais , e renda-se.
Segundo a promotora-chefe do TPII, Carla Del Ponte, o governo sérvio sabe onde Mladic está. Poderia tê-lo capturado em março, mas nada fez.