Título: Lula formaliza oferta para ter PMDB na chapa
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2006, Nacional, p. A11

Em nome do governo, Tarso ofereceu ao partido vaga de vice e comando de parte da máquina

O Palácio do Planalto fez ontem seu mais forte movimento na tentativa de fechar uma aliança eleitoral com o PMDB em favor da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em nome do governo, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, encontrou-se com o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e ofereceu ao partido a vaga de vice na chapa de Lula. Propôs ainda que, em caso de reeleição, o PMDB participe de uma "coalizão de governo" ao lado do PT e passe a comandar uma "parcela integral" da máquina pública federal.

A proposta foi apresentada durante café da manhã no apartamento de Temer. Rompido com o Planalto desde o ano passado, quando o governo deu um segundo ministério ao PMDB sem ter fechado um acordo prévio com a cúpula do partido, Temer parece ter gostado do encontro: "A conversa foi institucional, respeitosa e competente." Mesmo assim, o deputado disse que ainda não pode ser descartada a hipótese de o partido enfrentar Lula na eleição presidencial: "A candidatura própria cresceu muito e tem meu apoio." Temer foi procurado inicialmente pelo deputado Delfim Netto (PMDB-SP), que vem atuando como uma espécie de conselheiro informal de Lula. Na segunda-feira, Delfim telefonou a Temer para saber de sua disposição de receber Tarso. A convite do anfitrião, o deputado Moreira Franco (PMDB-RJ) também compareceu ao café.

A ação do governo mostra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está disposto a empreender o esforço necessário para ter o PMDB em sua chapa. Evidencia também que o PT percebeu que dificilmente atrairia o PMDB apenas com a ajuda dos governistas - o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e o senador José Sarney (PMDB-AM). Portanto, decidiu que, a partir de agora, também deve abrir negociações com a ala oposicionista da legenda.

"PONTE SÓLIDA"

"O ministro Tarso tem uma linguagem apropriada, e a conversa foi boa. Mas nada se esgota ou se resolve em uma primeira conversa", resumiu Moreira. Durante o encontro, Temer frisou que também está conversando com PFL e PSDB. Tarso respondeu: "Estamos sabendo disso. Apenas queremos estabelecer esta ponte de forma muito sólida." Os peemedebistas, por sua vez, abriram a possibilidade de a negociação com o PT prosseguir, quando avaliaram que o pior cenário é o PMDB ficar solto, sem candidato algum. Tanto Temer quanto Moreira afirmaram que não interessa repetir a "péssima experiência" de 1998, quando o partido não lançou candidato nem se aliou oficialmente ao PSDB para reeleger Fernando Henrique Cardoso. Com isto, os peemedebistas ficaram sem discurso, e o partido teve o seu tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão distribuído igualitariamente entre todos os candidatos.

Tarso aproveitou, então, para lembrar as declarações de Lula em favor da aliança, enfatizando que quer e precisa do PMDB. Se o acordo não for fechado para a eleição de outubro, a disposição é para um acerto no segundo turno. "O presidente sabe que, sem o PMDB, fica difícil governar", insistiu o ministro, ao admitir o erro político cometido pelo Planalto quando decidiu não fechar uma aliança com o partido no início da administração Lula.