Título: ONGs suspeitas já atuavam no governo Garotinho
Autor: Wilson Tosta, Alexandre Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2006, Nacional, p. A10

Iqual e Idort receberam dinheiro em 2000 e 2001

O esquema de terceirização de serviços por meio das organizações não-governamentais, agora suspeitas de envolvimento no suposto financiamento irregular da campanha do pré-candidato a presidente da República Anthony Garotinho (PMDB), tem raízes no seu próprio governo (1999-2002).

Duas das 12 ONGs investigadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) e pelo Ministério Público Estadual (MPE) por terem sido contratadas pelo governo de Rosinha Matheus receberam pagamentos do Estado em 2000 e 2001, segundo o Sistema para Administração Financeira de Estados e Municípios (Siafem). Os valores são bem menores que os da atual administração e, diferentemente do período 2003/2006, não saíram da Fundação Escola de Serviço Público (Fesp).

O levantamento mostrou que o Idort (Instituto de Organização Racional do Trabalho) recebeu em 2001 do Estado R$ 4.212.786,72. Dessa quantia, a maior parte é formada por 12 notas de empenho, cada uma de R$ 300 mil, chegando a R$ 3,6 milhões. Pelo menos uma delas foi emitida pela Faetec (Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro), para "Serviço de Apoio Administrativo, Técnico e Operacional Vinculado à Implantação de Projetos". A ONG foi contratada sem licitação.

Já o Iqual (Instituto de Qualidade Social) registra, em 2000, duas notas de empenho, referentes à Secretaria de Trabalho, que, somadas, chegam a R$ 219.147,00. Uma, de R$ 100.672,00, está sob a rubrica Qualificação Profissional - Programa Trabalhar Aprender. A outra, de R$ 118.475,00, é do Programa Telemática.

Ambas foram contratadas sem licitação e pelo gabinete do secretário. A mesma ONG recebeu, em 2001, R$ 385.002, 50, em quatro empenhos, da mesma secretaria e também sem licitação. A maior nota, de R$ 187.950,00, era referente à Qualificação Profissional - Programa Trabalhar Aprender Atividades Financeiras, Imobiliárias e Serviços às Empresas.

O Estado tentou entrar em contato com a assessoria de imprensa do ex-governador Garotinho, que está desde domingo em greve de fome para ter espaço em órgãos de imprensa e para exigir que a Organização dos Estados Americanos (OEA) fiscalize o processo eleitoral, mas não conseguiu localizá-la. Também não foi possível contactar o atual secretário de Comunicação Social, Ricardo Bruno, que estava em viagem.

GREVE

Garotinho começou ontem a sentir os primeiros sinais de debilitação decorrentes da greve de fome que iniciou no domingo. No fim do dia, leu mais uma vez carta em que reitera a reivindicação de espaço na mídia para se defender de denúncias que envolvem doações para a sua pré-campanha e demonstrou sentir o abandono dos principais líderes do PMDB. "Sei que agora, dentro do meu partido, conspiram contra minha candidatura a mando de Lula e dos banqueiros", afirmou. Aparentando abatimento, recusou-se a responder a perguntas.

O ex-governador passou a maior parte do dia deitado e sonolento. Segundo seu médico particular, Abdu Neme, ele permanece lúcido e orientado, mas começa a apresentar taquicardia e pressão baixa, além de estar levemente desidratado. Neme disse que um hospital está pronto para uma eventual internação de Garotinho.

De manhã, servidores estaduais insatisfeitos com a política salarial do governo depositaram quatro coroas de flores na porta do prédio onde fica a sede do PMDB com a inscrição "Descanse em paz, Garotinho". À tarde, o local foi tomado por correligionários do ex-governador, que vibraram com discursos feitos num carro de som.