Título: Garçom acusa PT em depoimento
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2006, Nacional, p. A7

Toninho teria sido morto por contrariar interesse do jogo

Em sessão secreta da CPI dos Bingos, o garçom Anderson Ângelo Gonçalves, conhecido como Jack, disse ontem que o prefeito de Campinas Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, foi morto por ter contrariado interesses de empresários do jogo. Afirmou ainda que o PT montou uma operação para evitar que o crime, ocorrido em setembro de 2001, fosse esclarecido.

Segundo o garçom, o escritório do criminalista Márcio Thomaz Bastos, hoje ministro da Justiça, agiu na época para evitar que ele denunciasse os mandantes. Bastos vendeu sua parte no escritório quando assumiu a pasta. Por sua assessoria, negou qualquer artifício para impedir o depoimento de Jack. Disse que, pelo contrário, o escritório atendia à família de Toninho e encaminhou a testemunha ao Ministério Público.

A viúva do prefeito, Roseana Garcia, rejeita a tese da polícia paulista de que Toninho foi vítima de crime comum. Ela acredita que o marido foi assassinado por ter denunciado, entre outras irregularidades, superfaturamento em obras públicas.

Jack disse ter ouvido reuniões ocorridas em três madrugadas, entre os dias 3 e 6 de setembro de 2001, no bingo onde trabalhava, em Campinas. Toninho foi assassinado no dia 10. Nesses encontros, o garçom revelou que o empresário angolano José Paulo Teixeira Cruz Figueiredo, o Vadinho, inconformado com a dificuldade para obter alvarás para seus bingos, tramava vingança contra Toninho. Vadinho é investigado pela CPI, baseada em denúncia de que o empresário e seu sócio, o angolano Artur José Valente de Oliveira Caio, doaram R$ 1 milhão à campanha de Lula, em 2002.

Para o Ministério Público Estadual, o depoimento do garçom não tem amparo em fatos reais. "Em cada versão que apresenta para a história, ele troca os protagonistas", disse o promotor Fernando Viana. "Na época, deu depoimento informal aos advogados e outro ao Ministério Público." O promotor explicou que o MP pretende acusá-lo de falso testemunho. "Até o final do processo ele ainda pode falar a verdade."