Título: Um pé em cada canoa
Autor: Dora Kramer
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2006, Nacional, p. A6

PMDB já admite a hipótese de ocupar a vice na chapa de Lula ou de Alckmin

A oficialização da oferta da vaga de candidato a vice-presidente na chapa à reeleição do presidente Luiz Inácio da Silva - a despeito do inusitado da proposta, diante da ausência formal da candidatura Lula - foi bem recebida pela direção do PMDB.

O presidente do partido, deputado Michel Temer, considerou "muito apropriados" os termos da conversa do ministro Tarso Genro sobre a possibilidade da formalização de uma aliança no primeiro ou no segundo turno, oferecendo a vice, influência na elaboração do programa de governo e, em caso de vitória, divisão concreta de poder.

Temer ficou impressionado com a "ênfase" do ministro, que assegurou haver consenso dentro do governo sobre a necessidade imperativa de ter o PMDB como parceiro, e embora não tenha dado grandes esperanças a Tarso Genro tampouco o desiludiu.

Avisou apenas que já havia recebido semelhante oferta por parte do PSDB e do PFL e, vencida a etapa da candidatura própria, o partido examinaria com igual carinho as duas propostas. Temer, pessoalmente, sempre foi alinhado aos tucanos, mas, partidariamente, acha que o partido deve se decidir pela hipótese mais conveniente.

Ah, claro, em obediência ao formalismo, o presidente do PMDB aponta a necessidade de, antes disso, se resolver internamente a questão da candidatura própria. E, na opinião dele, o assunto não estará liquidado com a pré-convenção do próximo dia 13, pois, seja qual for o resultado, ele será contestado pelos perdedores.

Se ganhar a tese da aliança (seja com quem for), Anthony Garotinho irá à Justiça argumentando que a convenção de dezembro de 2004 aprovou a candidatura própria e determinou quórum de dois terços para a aprovação de posição contrária. Se vencer a permanência da candidatura, os vencidos também recorrerão aos tribunais contestando a validade legal daquela convenção. Com isso, o desempate só deverá acontecer na convenção oficial de 10 de junho.

Ou seja, governo e oposição terão necessariamente de aguardar até lá para saber quem fica com o PMDB. Com alguém o partido deverá se aliar e, para isso, já fincou devidamente um pé em cada uma das canoas postas à sua disposição. O fato de serem opostas não parece afligir os pemedebistas.

A decisão final será bem pragmática: o lado que oferecer maiores possibilidades de alianças regionais leva. Por esse critério, o PSDB está hoje em vantagem, pois tem com os pemedebistas, e estes com os pefelistas, um maior número de afinidades eleitorais nos Estados.

Mas esse quadro pode mudar. "Se o Lula confrontar o PT e obrigar o partido a fazer alianças regionais com o PMDB, o cenário de preferência pode ser alterado", afirma Michel Temer.

O deputado já foi um defensor mais firme da candidatura própria. Ainda mantém as aparências, não ousa fazer juízo de valor sobre a repercussão eleitoral da greve de fome de Garotinho nem mesmo assume que Itamar Franco esteja fora do páreo, mas raciocina sobre hipóteses com desenvoltura.

E, diante de duas opções, o PMDB disputar como vice de um dos principais contendores ou ficar solto para apoiar quem bem entender, ele fica com a primeira. "O partido precisa tomar posição. Se não tivermos candidato, temos de apoiar explicitamente alguém."