Título: Lula afirma que liberdade de imprensa o levou ao poder
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2006, Nacional, p. A6

Ele diz que 'não há mais espaço para censura', mas não revê posição sobre tentativa de expulsar Larry Rohter

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou ontem a Declaração de Chapultepec, documento internacional que estabelece princípios da liberdade de imprensa, e disse que só despontou no meio político graças a essa conquista. "A liberdade de imprensa é a razão pela qual eu cheguei à Presidência, é a razão pela qual as instituições brasileiras dão demonstrações mais sólidas de crescimento e sustentabilidade democrática", afirmou.

Lula reconheceu que o governo tem por hábito reclamar do tratamento da imprensa, "quando as coisas não estão boas". "Houve algum momento na história do Brasil ou do mundo em que a imprensa, quando as coisas não estão boas, deixasse de ser vilã? Não houve", disse.

"Eu penso que todos nós temos a simplicidade de tentar encontrar o culpado por uma coisa que aconteceu que nós não gostaríamos que acontecesse. E eu digo sempre o seguinte: ao invés de a gente ficar procurando um culpado fora do nosso meio, quem sabe é melhor a gente olhar se não está dentro de nós mesmos", afirmou.

Apesar de ter tido problemas com a imprensa nos 40 meses de governo, Lula disse que nunca ligou para um dono de jornal para se queixar. "Da parte do governo não haverá censura", garantiu. "No Brasil não há mais espaço para a censura, não há mais espaço para condenar a liberdade de imprensa."

Momentos depois de assinar a declaração, o presidente disse não estar arrependido de ter tentado expulsar do Brasil Larry Rohter, correspondente do jornal The New York Times no País. "Não, não, não", respondeu Lula, diante da insistência dos repórteres em saber se ele revira sua posição sobre o episódio. Em 2004, Rother escreveu um artigo dizendo que o presidente se excedia no consumo de bebidas alcoólicas e quase teve o visto de permanência revogado.

Lula citou ontem dois presidentes dos Estados Unidos, Richard Nixon e Bill Clinton. O primeiro renunciou à Presidência em 1974 para evitar a cassação, por ter mentido sobre o caso Watergate. Já Clinton enfrentou uma crise no final dos anos 90 por causa do noticiário sobre a relação amorosa que manteve com uma estagiária. "Toda vez que me levanto e penso em reclamar da imprensa, fico imaginando que o Nixon renunciou por causa de uma mentira e o que passou Bill Clinton", disse.

'ESTAGNAÇÃO'

Lula participou também de reunião da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e aproveitou para classificar o governo de seu antecessor como "a década da estagnação". Disse ainda que, nos 40 meses de governo, fez muito mais do que ele próprio imaginava ser possível.