Título: CPI pede ajuda de técnicos para indiciar chefe de gabinete de Lula
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2006, Nacional, p. A4

Relator quer acusar amigo do presidente de participar de esquema de corrupção e caixa 2 em Santo André

O relator da CPI dos Bingos, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), encomendou à assessoria técnica da comissão um estudo para fundamentar pedido de indiciamento de Gilberto Carvalho, chefe de gabinete e amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por participação no suposto esquema de corrupção e caixa 2 montado pelo PT na prefeitura de Santo André.

Ao lado do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, Carvalho também deve ser responsabilizado por suposta colaboração para a versão de crime comum dada por dirigentes petistas para a morte do prefeito Celso Daniel, ocorrida em janeiro de 2002. Na mesma linha dos promotores de Santo André, a CPI acredita que o seqüestro e o assassinato de Daniel foram encomendados pelos envolvidos nesse esquema de corrupção.

Na quinta-feira, Garibaldi deve concluir com a assessoria a primeira versão consolidada de seu relatório final. Ele pretende votar o parecer até o dia 7 de junho, antes do início da Copa do Mundo.

O relator está cruzando as informações sobre o suposto envolvimento de Carvalho nas irregularidades. O assessor de Lula é o principal suspeito de levar recursos da prefeitura de Santo André para o comitê nacional, conforme depoimento de João Francisco, irmão de Celso Daniel, à CPI. A CPI também vai pedir o indiciamento de ex-assessores de Santo André, como o ex-secretário municipal André Klinger Luiz de Oliveira e os empresários Ronan Maria Pinto e Sergio Gomes da Silva, o Sombra.

Durante depoimento à comissão, Carvalho negou todas as acusações. Depois, submetido a acareação com os irmãos do prefeito assassinato, afirmou que todas as acusações eram "criações".

O indiciamento do chefe de gabinete é o último esforço da oposição de colar as investigações da CPI ao governo Lula. A avaliação é de que carregar nas acusações contra os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci, hoje fora do governo, não causaria estragos na imagem do presidente. Por isso, a oposição estaria concentrando esforços em arrastar Carvalho para o relatório final e colocá-lo em situação delicada. Seria o último grande momento da comissão, que, conhecida no início como "CPI do fim do mundo", perdeu força e deixou de produzir investigações.

WALDOMIRO

O próprio Garibaldi reconhece que a CPI teve dificuldades para aprofundar as apurações sobre o repasse de dinheiro proveniente do esquema de bingos para a campanha presidencial de 2002. O maior entrave foi o bloqueio do Supremo Tribunal Federal (STF) aos pedidos de quebra sigilo bancário de pessoas supostamente envolvidas no esquema. Apesar disso, as investigações da CPI apontam doações desse esquema para a campanha eleitoral, com ênfase no envolvimento do ex-assessor do Planalto Waldomiro Diniz e do ex-secretário da prefeitura de Ribeirão Preto Rogério Buratti.

A CPI do Bingos não conseguiu, porém, quebrar o sigilo bancário de Palocci, de Dirceu, do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e do ex-secretário-geral do partido Silvio Pereira. Desde que a oposição perdeu a maioria na CPI, o presidente da comissão, senador Efraim Morais (PFL-PB), evita submeter os pedidos a votação. Diante disso, as investigações dos coordenadores da campanha de Lula em 2002 ficaram prejudicadas.

Apesar dessas dificuldades, o tema volta à tona na terça-feira com o depoimento de Delúbio. Garibaldi, no entanto, não está apostando muito nessa sessão. "Ele não deve acrescentar muita coisa", disse. Delúbio é acusado de ter recebido R$ 50 mil mensais da Leão Leão para o PT nacional e outros R$ 2 milhões para a campanha eleitoral de 2002. Apesar de estar sendo convocado para falar sobre doações eleitorais de empresários de jogos de bingo, os senadores devem questionar também sobre as denúncias do banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, de que teria recebido pressões do PT para doar entre US$ 40 milhões e US$ 50 milhões ao partido.