Título: Senado aprova governo de Prodi
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2006, Internacional, p. A28

Com apenas dois senadores a mais que a oposição, novo líder italiano respirou aliviado ao fim da votação

O novo primeiro-ministro italiano, Romano Prodi, suplantou ontem o maior obstáculo para a posse de seu gabinete de governo: obteve voto de confiança no Senado, onde dispõe de uma apertadíssima maioria de apenas duas cadeiras. Prodi e seu ministério receberam 165 votos - 10 a mais que o exigido pelo regimento interno.

"Estou muito feliz com esse resultado", disse o chefe do governo e líder da coalizão de centro-esquerda vencedora das eleições gerais de 9 e 10 de abril.

Agora o novo governo será submetido à aprovação da Câmara dos Deputados, onde Prodi conta com uma folgada maioria. O voto de confiança ali é tido como absolutamente certo.

Antes da votação, o novo líder italiano fez uma breve apresentação de seu projeto para a Itália. No campo da política externa, reafirmou que o país vai alinhar-se aos demais parceiros da União Européia e confirmou a retirada das tropas italianas do Iraque, mas não fixou prazo para isso. Pediu à oposição conservadora que deixe de lado as "polêmicas inúteis", lembrando que o próprio Silvio Berlusconi anunciara em fevereiro, quando ainda exercia o poder, o retorno dos soldados para antes do fim do ano. Além disso, ressaltou que não aceita lições sobre a luta contra o terrorismo. Recordou que quando presidia a Comissão Européia contribuiu para criar uma série de dispositivos antiterroristas sérios e profundos com os EUA.

Sobre política interna, Prodi disse que a Constituição precisa de revisão. Reafirmou a resistência de sua coalizão à mudança federalista, introduzida por Berlusconi, que será submetida a referendo em 25 de junho.

Ele dedicou parte ponderável do discurso ao que classificou de "profunda crise ética" enfrentada hoje pelo país. "A ética deve abarcar a tutela dos consumidores na luta contra a evasão fiscal e a necessária barreira entre o mundo dos negócios e a política", disse.

Depois estendeu a mão aos conservadores, assegurando que não pretende mudar a lei eleitoral aprovada por eles. E adiantou que o crescimento econômico será a grande prioridade de seu governo. "O programa está inteiramente voltado para isso, mas antes vamos pôr as contas públicas em ordem e controlar os gastos públicos."

Por fim, Prodi rebateu os prognósticos de Berlusconi de que seu governo será frágil e efêmero. "Estão dizendo que não vamos comer panetone no Natal, mas temos uma maioria compacta e unida nas duas Câmaras do Parlamento", assegurou.