Título: Bloqueio de celulares prejudica 200 mil
Autor: Renato Cruz
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2006, Metrópole, p. C1,3

Desde as 14 horas de ontem, pelo menos 200 mil clientes de celular, usando estimativas conservadoras, foram prejudicados pelo desligamento das antenas próximas de seis presídios de São Paulo, como determinado pela Justiça. Isso equivale à metade das pessoas que têm aparelhos nessas áreas, conforme dados divulgados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

O número de prejudicados com a medida, da consultoria Telequest, não leva em conta os que passam pelas rodovias próximas das prisões. Em caso de emergência, como carro quebrado, as pessoas terão de sair à procura do telefone fixo. A medida vale por 20 dias.

Em Araraquara, Iaras, São Vicente, Franco da Rocha e Presidente Venceslau, o corte ocorreu à tarde, a partir das 13 horas. Em São Vicente, já havia problemas de sinal perto dos presídios na parte da manhã. A solução de emergência encontrada pelas operadoras foi desligar ou redirecionar antenas. Segundo o professor João Antonio Zuffo, da Escola Politécnica da USP, as antenas cobrem, em média, um raio de 7 quilômetros. "A cobertura depende da topografia do terreno", afirmou.

Além de trazer transtornos à população, as antenas desligadas não garantem o fim da comunicação dos presos. Quando se desliga o sinal forte de uma antena próxima, existem aparelhos que conseguem captar sinais mais fracos de equipamentos em torres mais distantes. O uso de bloqueadores traria menos prejuízo à população.

SEGURANÇA

Técnicos da Anatel calculam que custará R$ 1 milhão o bloqueio do uso de telefones móveis em cada uma das 144 unidades prisionais de São Paulo quando o governo editar um instrumento legal determinado a medida. Segundo a newsletter Tele.Síntese Análise, o custo será alto, pois há necessidade de bloquear nove faixas de freqüência.

O governo admitiu ontem que prepara um decreto ou uma medida provisória com determinações para impedir a comunicação dos detentos. Mas não há prazo para divulgação dessas medidas.

Além das operadoras de telefonia móvel, o bloqueador teria de agir sobre o serviço de rádio, como o da Nextel, sobre o telefone móvel por satélite e sobre as redes sem fio de comunicação de dados. A manutenção anual sairia por 10% do valor de instalação. O bloqueio determinado pela Justiça não impede outros tipos de comunicação, que operam em radiofreqüência diferente da usada pelos celulares. A Anatel admite que, mesmo agora, não se pode dizer que a comunicação das facções criminosas com as ruas esteja "100% paralisada".