Título: Fleury alertou sobre PCC em 1996
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2006, Metrópole, p. C6

Ex-governador diz que falou com Covas e avisou que a facção vinha ganhando poder no sistema carcerário

O deputado Luiz Antônio Fleury Filho (PTB-SP) afirmou que, ao deixar o governo do Estado em janeiro de 1995, alertou a equipe de seu sucessor, Mário Covas, de que o Primeiro Comando da Capital (PCC) estava tentando se organizar no sistema carcerário, copiando estrutura e métodos do Comando Vermelho (CV) no Rio.

"Nos dois primeiros meses de Covas, houve 63 rebeliões nas penitenciárias, sempre com os mesmos procedimentos e com os mesmos pedidos, como fazia o CV, que exigia transferências de presos para unidades até mais rigorosas, afim de criar novas células de seu grupo", disse Fleury.

Segundo o ex-governador, o alerta não adiantou, apesar de ele ter fornecido indícios de que alguma coisa estava ocorrendo. "O PCC vinha tentando se organizar desde 1993, quando eu era governador, depois de uma tentativa frustrada do CV de se infiltrar em São Paulo", afirmou. "Mandei fechar a Via Dutra e impedi a entrada dele."

O secretário de Gestão Estratégica de Osasco, Benedito Domingos Mariano, que assumiu a Ouvidoria de Polícia de São Paulo logo após a posse de Covas, afirma não haver notícia de que alguma informação do ex-governador sobre um nascente PCC tenha chegado às Secretarias da Segurança e da Administração Penitenciária.

"Eu teria me interessado pela questão, pois sempre acreditei que crime organizado se combate com informação e com reformas do sistema prisional e de segurança", observou Mariano. Preocupado com a reação da PM aos ataques atribuídos ao PCC nos últimos dias, insistiu que "a eficiência policial não se mede pelo número de pessoas que a polícia mata".

O procurador de Justiça aposentado João Benedicto de Azevedo Marques, secretário da Administração Penitenciária de julho de 1995 a setembro de 2000, disse que a sigla do PCC apareceu pela primeira vez em dezembro de 1997, quando faixas do grupo foram levantadas numa rebelião na penitenciária de Sorocaba.

"Sabíamos que havia movimentações no presídio, mas não negociávamos com essas facções", afirmou Marques. Na rebelião de Sorocaba, o Estado fez convênio com o Paraná para transferir líderes dos amotinados - cinco paulistas em troca de dez paranaenses.

Em resposta a um pedido de informações do deputado Afanazio Jazadji (PFL) sobre a organização do crime organizado em presídios, Marques afirmou, em ofício de 19 de março de 1998, que não existia nenhum movimento de um suposto Comando Paulista, cujos cabeças estariam agindo nas prisões de São Paulo "semelhantemente ao Comando Vermelho do Rio de Janeiro". O requerimento de Jazadji, de 22 de maio de 1997, dez meses antes, referia-se ao PCC e transcrevia o estatuto da organização.

O advogado Belisário dos Santos Júnior, secretário de Administração Penitenciária no início do governo Covas, disse que também não recebeu nenhum comunicado de Fleury ou de assessores. "Enfrentamos mais de 20 rebeliões naquela época, todas internas. Sempre procuramos ganhar tempo e, se concordávamos com os pedidos de transferência, não deixávamos de aplicar punições."