Título: Papa pune acusado de abuso sexual
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2006, Vida&, p. A34

Padre mexicano é fundador de uma ordem elogiada por João Paulo II

O Vaticano reconheceu ontem, ainda que com cautela, as alegações de longa data de abuso sexual do fundador de uma proeminente comunidade católica de ultradireita, a Legionários de Cristo. A Igreja ordenou que o padre mexicano Marcial Maciel Degollado, de 86 anos, desista do ministério público e se recolha a uma vida de "preces e penitência".

O anúncio marca a primeira ação pública do papa Bento XVI em relação ao delicado assunto do abuso sexual dentro da Igreja. E é feito contra um padre com um currículo particularmente especial: o reverendo Marcial Maciel e sua legião foram freqüentemente elogiados pelo papa João Paulo II.

O comunicado dizia que Maciel não será submetido a julgamento pelas alegações contra ele, que não foram reveladas, embora nove homens o tenham acusado de molestamento. As razões, segundo o comunicado, seriam sua "avançada idade" e "saúde frágil".

As reações à decisão do Vaticano variaram. Alguns louvaram o papa por ter tornado pública sua posição e outros consideraram que ele não foi suficientemente longe, dada a seriedade das denúncias e a dimensão da crise de credibilidade que as histórias de abuso sexual causaram à Igreja.

"Poderia ter sido mais severo", disse John Wilkins, editor da influente revista católica inglesa Tablet. "Mas trata-se do fundador da Legionários e esse julgamento já é devastador para eles." A Legionários de Cristo foi criada no México em 1941 e cresceu a ponto de agora incluir 650 padres e 2.500 seminaristas em 20 países. A ordem tem dezenas de universidades.

Maciel deixou a liderança da comunidade este ano. Em 1994, o papa João Paulo II, numa viagem ao México, o chamou de "um eficaz guia para a juventude". A declaração foi citada por várias vítimas como um dos motivos que os levaram a fazer as denúncias.