Título: Gabinete iraquiano será votado hoje
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/05/2006, Internacional, p. A25

O primeiro-ministro Maliki não obteve acordo com as principais forças políticas sobre pastas da Defesa e Interior

O primeiro-ministro designado do Iraque, o xiita Nuri al-Maliki, vai anunciar hoje a formação do ministério, apesar de não ter conseguido um acordo com as principais forças políticas para as pastas-chave da Defesa e Interior, essenciais para a estabilização do país.

Por enquanto o cargo de ministro do Interior será acumulado por Maliki enquanto a Defesa ficará nas mãos do vice-presidente Tariq al-Hashemi, um sunita. Hoje o Parlamento se reúne para votar o gabinete e a designação de Maliki para a chefia do governo. A expectativa é de rápida aprovação, já que os partidos fecharam o acordo. O atual ministro do Interior, o xiita Bayan Jabor - acusado de complacência com esquadrões da morte - , assumirá a chefia do Ministério das Finanças.

O acordo põe fim a cinco meses de impasse nas negociações para a formação de um governo de coalizão nacional, apoiado pelos principais partidos e grupos curdos, árabes xiitas (majoritários no Parlamento) e árabes sunitas - a base da sociedade iraquiana. Os EUA pressionaram todas as partes para fazer concessões, como estratégia para pacificar o país e, assim, retirarem seus mais de 130 mil soldados estacionados em várias províncias iraquianas.

No entanto, analistas políticos consideram que enquanto não houver acordo para a Defesa e o Interior, o risco de guerra civil continuará elevado. Esses ministérios são acusados pelos líderes sunitas de encobrir a ação de milícias e esquadrões da morte que mataram centenas de pessoas nas últimas semanas.

Depois da queda de Saddam Hussein, as condições de vida da população iraquiana pioraram e a violência aumentou. O desemprego deu um salto e os cortes no abastecimento de água e energia elétrica são freqüentes. De acordo com a ONU 4 milhões de pessoas vivem agora em extrema pobreza.

CHACINA DOS EUA

O número oficial de civis iraquianos assassinados em novembro por fuzileiros navais americanos pode chegar a 24, disse o deputado Duncan Hunter, presidente do Comitê de Serviços Armados da Câmara dos Representantes dos EUA. Hunter enfatizou que a investigação ainda não foi concluída.

Uma patrulha de marines começou a atirar aleatoriamente contra a população depois que um soldado americano foi morto na explosão de uma bomba plantada por insurgentes numa estrada, em Hadhita, oeste do Iraque. Inicialmente se falou em 15 mortos, mas na quarta-feira o deputado republicano John P. Murtha adiantou a jornalistas que a estimativa de civis mortos a sangue frio era quase duas vezes maior.

Ontem também, o general Peter Chiarelli, comandante militar no Iraque e segundo na hierarquia das forças dos EUA no país, declarou à imprensa que a chave para reduzir as baixas americanas é a formação de um governo que revitalize a economia e retire "os jovens homens revoltados das ruas".

Ontem o comando militar dos EUA enviou reforço de tropas para Ramadi, a oeste de Bagdá, um dos focos da resistência dos árabes sunitas ao novo governo e à ocupação. Os marines foram alvo de múltiplos ataques em Ramadi.